Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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falando, não existe esse lugar que a gente toma uma posição política e que<br />
não há brigas. Por exemplo, ao mesmo tempo que a gente toma uma posição<br />
como essa, a gente também é rechaçado de cá e vice-versa, toda posição<br />
tem uma consequência. Isso eu acho muito legal discutir. Os coletivos<br />
não devem se esconder atrás de um discurso harmonioso – vamos dizer<br />
assim – “a gente é um coletivo porque somos amigos, a gente é um coletivo<br />
porque somos de quebrada”, a gente é amigo sim, mas também somos inimigos,<br />
sabe? Somos de quebrada porque nós somos iguais, blá, blá, blá. Não,<br />
nós somos politicamente iguais, talvez, mas não podemos ficar presos a<br />
essa questão de que entre nós não há discussão, entendeu? Acho que a<br />
gente deve mais e mais colocar em evidência, inclusive as nossas questões,<br />
que um debate de periferia deveria dizer assim: “O coletivo x é um coletivo<br />
massa, mas é um puta coletivo machista, é um coletivo sexista. Porque nós<br />
somos homens que, historicamente, numa tradição, percebem a quebrada<br />
assim. E nós estamos num coletivo que, nesse momento, as mulheres estão<br />
falando que a gente é filho da puta”. Tem ser colocado assim, de repente a<br />
gente pode falar bem assim: “Ó, nós somos o coletivo y e estamos extremamente<br />
constrangidos de ser acusados de sexismo”. Porque às vezes, quem<br />
são essas pessoas? Que direito têm essas pessoas, talvez de 21 anos, que<br />
nos acusam de ser machista ou sexista, se elas não têm a experiência que<br />
nós tivemos como homens de periferia de 40 anos? Nós podemos ser homens<br />
que têm sexismos, mas temos a nossa sensibilidade masculina também,<br />
por que não? Será que a gente vai ser culpado de ser heterossexual?<br />
Será que nós somos culpados de ser homens velhos heterossexuais? A gente<br />
não pode ter a sensibilidade de homens heterossexuais? Entendeu o que<br />
eu estou falando aqui? É não ficar preso na parede com os discursos politicamente<br />
corretos que existem, entendendo que o discurso politicamente<br />
correto é essencial pra um avanço, entende do que eu estou falando? Como<br />
essa questão está sempre exposta, assim, a gente não pode ficar refém dela,<br />
mas a gente entende que só se avança com ela, assim, há esse meio termo.<br />
Querem chegar aonde? Na minha cabeça, a grande discussão hoje é colocar<br />
na roda, entre nós do cinema de quebrada, as nossas contradições, não<br />
vamos deixar que os outros pensem que somos um grupo de heróis, um<br />
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