Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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totalmente incompreensível. Eu falo rápido e falo um monte de besteira,<br />
palavras sem nexo, fico grunhindo, bato na parede, aí os meus filhos entram,<br />
o telefone toca. Eu faço tudo pra não ter uma fala de dez minutos,<br />
falo em dez segundos, e eles vão ter que ficar lá dois dias pra cortar de um<br />
lado e de outro, pra montar. Eu faço questão de ser um incômodo pra essas<br />
pessoas assim. Essas pautas me incomodam muito. Por exemplo, quando a<br />
gente ganhou o festival de Brasília essas pautas eram totalmente xaropes,<br />
assim: “Ah, os caras são Robin Hood”, porque a gente dividiu o prêmio, né.<br />
Porra de Robin Hood nada, cara, não é nada disso, a gente tem um modo de<br />
viver. Acho uma palheira essa coisa de ser Robin Hood, muito pelo contrário,<br />
a divisão foi uma discussão política, o “Robin Hood” tira o lugar do<br />
político, né: “Ah, esses caras não são políticos. Eles são emocionais, eles<br />
são heróis”. Herói é uma merda, né. O herói morre. Morre com a família<br />
fodida inclusive, e eu não quero que a minha família seja fodida, não – eu<br />
quero que meus filhos cresçam bem, vão pra universidade, tenham uma<br />
vida legal, sabe, não quero que a vida meus filhos seja igual à minha, quero<br />
que eles tenham muito mais tranquilidade do que eu tive. Então, eles não<br />
falam, por exemplo, que a discussão foi planejada quase uma semana antes,<br />
que não fui eu que propus a divisão sozinho, que era uma questão coletiva<br />
de fato. Porque quando eles tiram a decisão do coletivo, tiram a força política<br />
do coletivo, dizem assim: “O Adirley quis dividir. Ah, o Adirley é herói”.<br />
Foda-se. Não foi confortável pra mim, não é tão simples falar em dividir<br />
dinheiro. Foi uma questão política pensada, que foi o melhor pra possibilidade<br />
do cinema nosso, independente de quem fosse, isso já era pensado<br />
há muito tempo. Independente de como os filmes foram aceitos. Até o<br />
[Sérgio] Alpendre escreveu: “Ah, mas eu acho que os caras já tinham uma<br />
noção de quem que ia ganhar”. Não, a gente tinha feito isso antes de saber<br />
como esse filme ia ser recebido. Mas, assim, não vou nem dizer do Alpendre<br />
porque eu acho ele desenvolve mais, e de certa forma eu até o respeito –<br />
mesmo falando mal de nós, eu respeito, não concordo, mas respeito –, ao<br />
contrário de outros caras que falam mal da gente, dessas coisas do exótico,<br />
sabe? Então, me incomoda muito essas pautas do herói, do cara que: “Ah,<br />
como assim esses caras podem fazer?”. Pô, podemos fazer porque a gente<br />
ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 237