Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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média também, uma classe média que eu nego profundamente, que eu<br />
nego radicalmente, porque eu acho que essa classe média de Ceilândia –<br />
classe média, na minha cabeça, é classe média em qualquer lugar – é perversa,<br />
é racista, é territorialista, é homofóbica, então, classe média é classe<br />
média em qualquer lugar. Então eu já brigo com eles, por exemplo, aqui<br />
na Ceilândia. Eles já têm uma briga comigo, já saem no pau, já me odeiam,<br />
já falam mal de mim, já criam situações em que eu sou doido, que eu não<br />
sou um cara do diálogo, blá, blá, blá… Mas, assim, eu queria dizer que em<br />
relação a ser popular, nesse sentido, acho que os filmes teriam um potencial<br />
muito grande de serem vistos. O Branco Sai, se tivesse lançado em<br />
DVD, acho que venderia 100 mil, 50 mil cópias na Ceilândia, muito mais,<br />
pela identidade muito forte que as pessoas têm em relação à Ceilândia, as<br />
pessoas de Ceilândia se identificam muito com a cidade, sabe? Mas não<br />
tenho a pretensão de que o meu filme também vai ser tipo o rap, a música,<br />
não é isso. É um filme, que tem muitas contradições, tem um tempo dele,<br />
muito particular a ele, o que obviamente não atende às necessidades de<br />
todos. Porque o filme nasce de um baile e é o mais famoso da cidade. Então,<br />
as pessoas pensam: “Ah, vamos ver o Quarentão” e o filme nega uma<br />
nostalgia. O filme, pelo menos na minha cabeça, é uma construção de uma<br />
negação da nostalgia, porque eu acho que a nostalgia é reacionária. É linda,<br />
mas é reacionária. Nostalgia também oprime muito: “Aquele tempo<br />
era melhor”, não, aquele tempo era muito ruim. O Quarentão era lindo,<br />
mas aquele tempo era um tempo de morte, de polícia, de racismo, a gente<br />
tinha muito menos dinheiro, não ia à universidade de modo algum. A gente<br />
tinha muito menos opção de poder circular, os nossos filhos estudavam<br />
muito pouco, porque a gente tinha que trabalhar, não tinha nenhuma<br />
forma de bolsa, como o bolsa-família, não tinha nada disso. Houve um<br />
avanço, na minha cabeça. A minha geração é uma geração que cresceu, o<br />
passado não é bom, o passado é ruim na verdade. Hoje é melhor do que o<br />
passado. É um filme que nega uma memória nostálgica. Ele propõe explodir<br />
a gente inclusive, então isso obviamente causa conflito com a minha<br />
geração, que acha o filme legal, que me respeita, mas queria que falasse<br />
como eles foram legais e tal, entendeu o que eu estou falando? A minha<br />
ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 225