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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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horrorosa.<br />

O normal parece sentir o ritmo da vida nos outros. Sabe ser delicado porque<br />

sente a Dor alheia. Sente toda a realidade que os outros podem ser capazes de<br />

sentir.<br />

O normal é sensível no verdadeiro sentido da palavra. A sensibilidade mental<br />

do neurótico é diferente da sensibilidade do normal. Quero esclarecer este ponto<br />

porque existem muitos neuróticos bastante perceptíveis e que compreendem<br />

perfeitamente as personalidades dos que os cercam. O que não conseguem, penso<br />

eu, é sentir as situações em que se encontram porque estão representando<br />

sentimentos reprimidos. Assim, por exemplo, um homem brilhante pode estar<br />

expondo algum ponto filosófico num jantar, percebendo completamente a espécie<br />

de pessoas que o ouvem ao mesmo tempo que se mostra positivamente insensível<br />

para o fato de estar ele dominando a conversa. Está ocupado demais fazendo<br />

sobressair a sua importância e necessidade de atenção. É por isso que é da máxima<br />

importância que o terapeuta não só tenha capacidade para perceber as<br />

personalidades alheias, como também que seja normal. Se não for assim ele poderá<br />

estar, representando sua necessidade de tornar-se necessário, com seus pacientes,<br />

por exemplo, e com isso prejudicando a parte boa da terapia. O normal já não sente<br />

a urgência de pensar no futuro para escapar ao vazio do presente. Um paciente<br />

contou-me que costumava dizer que não queria ser rico porque os ricos devem ser<br />

infelizes, já que podem ter tudo que desejam e portanto não precisam pensar no<br />

futuro. "Eu vejo agora que, se não pudermos aproveitar tudo a todos os momentos,<br />

então nada temos para desejar no futuro."<br />

O normal não confunde esperança com planejamento. Ele pode planejar uma<br />

situação futura, mas não se deixa empolgar pelos planos até não ter mais o presente.<br />

Parece que os neuróticos conservam as coisas no futuro para não terem que gozá-las<br />

no presente. Eu acredito que isso venha de experiências primitivas da criança,<br />

quando fazer o que bem entendiam significaria a rejeição e possivelmente o<br />

abandono pelos pais que esperavam ver as coisas feitas como eles queriam. A criança<br />

tinha que adiar o que desejava esperando para alguma ocasião no futuro. Isso talvez<br />

consiga explicar a ideia que quase todos nós alimentamos em criança: "Quando eu<br />

crescer vou ser muito feliz." Parece que muitos neuróticos continuam a pensar assim<br />

já adultos. O normal, que já desistiu das esperanças irreais e da luta para agradar,<br />

pode levar sua vida como bem entender.<br />

O neurótico "exige." O normal "necessita". Quando o neurótico exige o que<br />

realmente necessita significa sentir a Dor, e portanto, ele recorre a substitutos mais<br />

fáceis. O normal necessita de coisas simples porque deseja o que necessita e não<br />

algum substituto simbólico. O neurótico pode desejar uma bebida ou um cigarro, o<br />

prestígio ou o poder, altos cargos ou um carro veloz, tudo para cobrir as dores dos<br />

vazios, da falta de valor ou de poder. Já o normal não precisa de nada disso.

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