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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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Janov estava de pé ao lado de sua mesa quando entrei no seu consultório pela<br />

primeira vez. Enquanto ele falava eu tinha um sorriso no rosto. — Não fique aí<br />

olhando para mim. Não vai encontrar aqui as respostas. Escolha um sofá. — Assim foi<br />

o começo.<br />

Logo meu sorriso desapareceu e deitei-me no sofá. — O que é que sente? —<br />

Minhas respostas foram fragmentadas e irregulares. Comecei a chorar. Janov falou.<br />

— O que há com você? Vamos conversar. Parece-me bem mal. — Chorei ainda mais<br />

e ele ficou esperando. Depois falou. — Diga o que sente, mas não deve ser chorando.<br />

— Eu parei, mas ainda tinha acessos de choro. Acabei acalmando-me. — Muito bem,<br />

diga-me o que sente. — Eu respondi que sentia ansiedade e sentia-me como se<br />

flutuasse. Janov então respondeu: — Muito bem. Agora mergulhe direto. Ponha as<br />

pernas para fora. Agora mergulhe bem para dentro sem procurar controlar- se de<br />

forma alguma. Vamos lá! Vamos lá! — Eu aí comecei a respirar rapidamente. Janov:<br />

— Agora respire da barriga, bem fundo. Abra a boca e respire da barriga. Diga<br />

AAAAhhh... fundo. Bem fundo! Janov: — O que é? — Minha cabeça começa a girar.<br />

Eu não me entrego. Estou sempre pensando no medo que tenho da crítica. Meu<br />

desejo, minha ânsia, tudo que é meu... não é realmente o que está acontecendo<br />

comigo. Não quero fracassar. Não quero ser criticado. Janov: — Por quem? — Acho<br />

que é pela minha família. Retrocedo ainda mais. Acho que não me lembro antes dos<br />

três. Lembro depois dos três. Sei que tenho ressentimentos. Não posso perdoar...<br />

Janov: — Diga. — Não posso perdoar minha mãe. Largou- me com três anos. Nunca<br />

aceitei minha madrasta. Surgem as críticas. Por que não sou bom como meu irmão?<br />

Ele se conforma. Eu me rebelo. Eu não quero mesmo ser como ele. Ele não presta.<br />

Janov: — E o que diria você à sua mãe, se pudesse falar com ela agora, sua<br />

mãe verdadeira? — Eu lhe pediria que me amasse.<br />

Janov: — Pois muito bem, diga-lhe. Fale com ela, vamos, diga o que deseja. —<br />

Começo a respirar com dificuldade e sinto um bolo na garganta. Faço força. Sinto<br />

como se estivesse sendo rasgado pelo meio com as duas metades uma contra a<br />

outra. Eu estava sendo rasgado fisicamente e de todo jeito. Tento lutar. As minhas<br />

duas partes estão presas. Não consegui evitar. Abri a boca e gritei. Mamãe! Mamãe!<br />

Janov: — Chame.<br />

— Eu quero que ela volte. Começo a chorar muito. Está doendo. Engasgo-me<br />

com o que sinto. <strong>Grito</strong> que quero morrer. Janov: — Diga a ela. — Não consigo falar.<br />

Mamãe, não vá! Desligo. Não consigo evitar o choro, a sufocação e a dor. Estão me<br />

dilacerando. — Odeio... deixe-me só. Mamãe. Odeio vocês todos, seus sacanas. —<br />

Engasgo e gaguejo tentando abafar meus sentimentos, tentando controlá-los. Mas<br />

eles continuam vindo. Meu corpo dói. O nó na garganta continua. <strong>Grito</strong>. — Eu quero<br />

amor. — Desligo. Luto. Sempre sai. — Eu quero amor. — Fico mais tranquilo e sinto<br />

medo. Não tenho certeza do que sinto. Vejo que fiz uma porção de coisas sem<br />

querer, só porque queria o amor de meus pais. Tive medo outra vez. Tive medo de

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