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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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Comecei então a pensar se seria mesmo aquilo o que eu sentia. Janov incitou-me e<br />

eu comecei a chupar entregando-me ao que o corpo me pedia. O que eu estava<br />

querendo era simplesmente mamãe, ou antes os seios da mamãe. A dor que sentia<br />

era a mesma de sempre quando sinto que a quero. E com isso chorei. Então, na<br />

minha boca já se formava uma pergunta, "por que ela não gostava de mim?" Eu já<br />

sentira a tremenda rejeição de não receber cuidados, isto é, de ter o seio para<br />

mamar, de ser levado ao colo para estar junto dos seios muitas vezes. E esta é a<br />

parte mais importante dessa experiência: muitas vezes. Estou certo que minha mãe<br />

cuidava de mim de acordo com o seu temperamento, mas não de acordo com<br />

minhas exigências de criança. E ali agora, naquela noite, eu estava sentindo outra vez<br />

aquela rejeição quando ela não me ouvia gritar. E então eu ficava ali fazendo aquela<br />

pergunta silenciosa com a boca o mais aberto que eu podia. Não conseguia<br />

compreender aquilo. Eu gritava silenciosamente perguntando-lhe por que não<br />

cuidava de mim e percebia agora que o desejo indistinto de uma hora atrás era<br />

realmente dirigido para minha mãe. O que eu queria mesmo era os seus seios<br />

suculentos enfiados na minha boca sedenta onde ainda não havia dentes. E ali agora,<br />

talvez pela segunda vez em toda a minha vida, eu estava experimentando outra vez<br />

aquele desejo esfaimado. A primeira vez fora ao nascer, vinte e seis anos antes, e a<br />

segunda era ali naquela noite. De uma certa forma, todos os elementos para um<br />

perfeito reconhecimento de minha posição naquele momento preciso estavam se<br />

reunindo. O significado de minha <strong>Primal</strong> foi para mim um impacto vindo de trás. Era<br />

como se o significado viesse de minhas entranhas e saísse pela boca com um grito<br />

meu dizendo que não podia falar. Claro que meu desejo ficou em silêncio porque isso<br />

foi antes de eu poder transformá-lo em palavras. Eu ainda não aprendera a falar.<br />

Então, mais tarde, quando já sabia falar, já estava tão confuso a respeito de amor<br />

que não sabia mais pedir. Foi só depois de tudo aquilo que meu desejo fez sentido.<br />

Foi o que descobriu tudo. Senti esta noite que não podia mais permitir-me estar<br />

pensando ser ainda uma criança, e sentia tudo que havia de horrível naquilo.<br />

Voltei a mim logo depois disso e fiquei ali pensando como minha vida teria<br />

sido completamente diferente se todos os meus desejos de criança houvessem sido<br />

satisfeitos, se minha mãe houvesse me acalentado sempre que meu corpo pedisse...<br />

8 de junho<br />

Fiz com que todo o meu corpo se esforçasse para um tremendo grito ou uma<br />

crise de choro. Já tinha feito isso muitas vezes antes, mas nunca fora ouvido. A razão<br />

para estar repetindo aquilo ali no sábado era para não deixar sombra de dúvida que<br />

eu tinha mesmo gritado alto bastante para ser ouvido. E por isso o meu grito era tão<br />

longo e profundo. Se eu fosse acreditar que tinha sido ouvido sem que eles se<br />

importassem, isso significaria para mim a solidão, que era justamente o que estava<br />

procurando evitar. Também, se eu abandonasse a luta isso significaria que estava

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