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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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Comecei a fazer boa figura nos esportes e também a namorar. Já no fim do<br />

ginásio eu fui escolhido para orador da turma, campeão de oratória do estado,<br />

jornalista e pronto para a universidade. Sentia-me infeliz. Durante muito tempo,<br />

quando mamãe saía, eu vestia as roupas dela, tanto de cima como de baixo e dava<br />

vazão à minha fantasia de já ser como ela queria e então ela iria amar-me<br />

finalmente. Era tudo uma merda ou talvez pior ainda.<br />

Quando entrei na universidade eu reprimi essas atividades continuando com a<br />

minha fantasia e batendo punhetas como todo mundo. Mas os estudos e a<br />

atmosfera eram tão pesados que nem mesmo isso adiantava. Não tinha namoradas.<br />

A corrida rasa onde eu era campeão tomava muito tempo e prejudicava os estudos,<br />

mas não ajudava a aliviar a tensão. Como era bom no esporte e na corrida as coisas<br />

ficavam um pouco mais fáceis.<br />

No fim do primeiro ano tornei-me ativista. O treinador de corrida era cheio de<br />

preconceitos e expulsou um estudante estrangeiro só por causa da cabeleira de<br />

"Beatle". Eu já estava cheio de tudo.<br />

Naquele verão arranjei uma namorada firme pela primeira vez na minha vida.<br />

Foi a primeira pessoa com a qual senti alguma coisa. Mas não conseguia de forma<br />

alguma trepar mesmo com ela segurando meu pau quando estávamos na cama.<br />

Durante seis meses lutamos desesperadamente sem nada conseguir. Quase fiquei<br />

louco. Vivia aterrorizado de ser reprovado e ter que abandonar a universidade e<br />

comecei a escrever notas estilo Kierkegaard, à Ia Bob Dylan, Ken Kesey et al. Sentiame<br />

tenso com o que escrevia de mitos, existencialismo e o trágico heroísmo do<br />

homem da rua mas achava que aquilo era a única maneira de manter-me são. Estava<br />

tentando manter a Dor lá embaixo, e estava conseguindo.<br />

Foi nesse ponto que fiz a notável descoberta que ninguém tinha o direito de<br />

me dizer para matar alguém. Muito simples. Mas a simplicidade, como o sentimento,<br />

simplesmente tinham-me escapado desde que eu começara a preocupar-me com o<br />

que iria acontecer comigo. Fiquei tão empolgado pela simples noção que a<br />

transformei numa espécie de antidogma. Fiz algum trabalho de resistência no<br />

Arizona e tentei imaginar como sintetizar política e arte. Ir para a cadeia por causa do<br />

serviço militar ou expatriar-me para escrever meus grandes livros para o mundo e<br />

morrer com trinta e nove anos. Como fazer as duas coisas? Eram problemas sérios<br />

com sérios sentimentos por baixo. Mamãe e papai. Precisava mostrar a mamãe.<br />

Precisava ajudar para as pessoas não lutarem mais (mamãe e papai). Precisava<br />

encontrar um lar de paz, simplicidade e permanência (nós todos juntos). Precisava<br />

ser forte e eficiente (papai), e por aí além. Recusei-me a servir mas sem violência. Iria<br />

escrever e estudar até que viessem me prender. Muito passivo.<br />

No primeiro dia da terapia eu contei para Art como tive vontade de mandar<br />

meu pai a merda quando ele recusou-se a me dar o dinheiro para o tratamento. Art<br />

disse apenas "Não diga!"

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