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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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Terça-feira<br />

Hoje Art tentou fazer-me chorar como bebê, mas não conseguiu. Ia quase<br />

chegando onde ele queria mas depois a coisa me fugia. Fiquei me debatendo ali no<br />

chão durante três horas e meia. Tentei escapar querendo mijar mas não consegui. Se<br />

mijasse já não iria chorar pois meus sentimentos sairiam na mijada. Se chorasse,<br />

relaxaria os músculos e me mijaria todo.<br />

Mesmo assim, o esforço resultou em alguns insights de imenso valor. Senti a<br />

raiva de minha mãe quando eu me debatia e chorava no berço. Não aguentava<br />

aquilo e queria esconder-me. Fiquei sabendo como era nunca ter o leite suficiente e<br />

ter que chupar o ar. Senti a falta de amor nos seus rostos de americanos góticos.<br />

Queria me esconder de suas expressões frias. Enfiei-me embaixo do sofá e gritei para<br />

Art perguntando-lhe o que queria de mim. Aprendi a falar o tatibitat dos bebês e<br />

sentia a distância que existia entre meu pai e eu. Era como se ele me aparecesse ali<br />

para dizer-me que não esperasse dele carinho de pai. Lembrei-me que sempre me<br />

escondia o seu pau e não queria que eu o visse nu. Também nunca vi minha mãe<br />

nua.<br />

Quando aquilo acabou eu estava completamente exausto, tão exausto que<br />

nem mesmo podia escrever tudo que se passara. Isto aqui foi o melhor que consegui.<br />

Às vezes, quando era pequenino, eu me escondia embaixo de uma cama ou<br />

por trás de algum sofá. Gostava de ficar ali sozinho sem que minha mãe me visse. E<br />

foi o mesmo que fiz hoje enfiando-me embaixo do sofá. Agora estou lembrando.<br />

Ficava cansado de ver o rosto dela zangado. Então escondia-me para ficar só.<br />

O padrão de meu comportamento na terapia é muito típico. Começo com<br />

muita força, mas logo alguma coisa se embrulha. Depois começo a chegar ao ponto<br />

em que me torno um meninozinho indefeso. Não compreendo nada. Só vejo que<br />

minha atenção está sendo desviada do que estou fazendo realmente para ser dirigida<br />

a alguma coisa diferente.<br />

Quarta-feira<br />

Hoje debati-me no chão outra vez. Fiquei sabendo como tinha sido rígida a<br />

minha educação. Meu corpo não tinha licença para fazer o que queria. Eu estava<br />

numa camisa-de-força. Não tinha licença para nada. Nunca brinquei com minha mãe.<br />

Nunca cheguei a sugar-lhe o seio.<br />

Hoje aprendi a rolar e brincar no chão, mas houve a mesma confusão da<br />

vontade de mijar. E ainda não conseguimos chegar àquele medo do sábado outra<br />

vez.

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