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JANOV, Arthur. Grito Primal, O

Terapia Primal: A cura das neuroses.

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instantes. É fantástico.<br />

Vi todos os meus temores das alturas, de quedas, do oceano. Olhei lá fora<br />

pela janela e em volta de todo o consultório. Tudo parece diferente... como se<br />

alguma coberta houvesse sido retirada. Saio do consultório sentindo-me ótima.<br />

Esta noite, ao ouvir música, comecei a chorar. Sinto como meu pai estava<br />

triste, como ambos estavam tristes e como eu era uma menininha triste. Tentei<br />

lembrar-me de mamãe.<br />

Vejo-a no piano, mas o seu rosto está sempre dissolvendo-se em alguma coisa<br />

de histórias de quadrinhos com horrores. Tento vê-la agora, mas continuo vendo o<br />

seu rosto triste e doente de vinte anos atrás. Sinto-me desolada quando percebo,<br />

pela primeira vez, o quanto ela estava doente e digna de pena.<br />

Sexta-feira<br />

Começo vendo mamãe no piano, como vi na noite passada, e, mais uma vez, o<br />

seu rosto se dissolve num horror. Não consigo fixar a imagem. Depois vejo-a com uns<br />

trinta anos. Ela olha de soslaio, paranoica, apavorada. <strong>Grito</strong> "ela está louca". Choro<br />

sem parar. Ela está louca e irreal. Uma máscara. Ela não estava lá comigo quando eu<br />

era criança porque estava louca. Ela tem que ficar sempre andando para não ficar<br />

louca. Eu devo tê-la levado à loucura obrigando-a a ficar em casa com minha irmã e<br />

comigo. Pobre mamãe. De repente fiquei pequenina olhando para minha família.<br />

Papai triste, mamãe louca e apavorada, minha irmã zangada... todas nós sozinhas.<br />

Tentei melhorar a situação dançando loucamente e fazendo graças. Estava atônita.<br />

Era muito pequena para compreender ou aceitar. Ninguém ajudava uma menininha.<br />

Sentia a loucura de mamãe. Compreendia quando fingia. Ela acha que estará bem<br />

desde que mostre-se "sadia" e que faça coisas "saudáveis". Foi só o que a sua terapia<br />

fez por ela. Chorei por minha irmã que também tentava mostrar tudo certo com seus<br />

fingimentos.<br />

Sábado<br />

Ainda não tenho recordações da infância e então passei a falar de minha<br />

aventura com a droga. As primeiras duas viagens foram alegres, cheias de êxtases,<br />

místicas, completamente irreais e muito visuais. Durante os três meses entre a<br />

segunda e a terceira, eu comecei a usar muitas anfetaminas e codeína. Na terceira<br />

vez senti-me infeliz e tomei-a para sentir-me melhor. Tinha medo de tomar sozinha,<br />

mas afinal tomei. As primeiras duas horas foram como as outras. Chegaram alguns<br />

amigos que ficaram pouco tempo. Quando saíram fiquei ansiosa. Tentei lembrar-me<br />

por que tinha medo de tomar sozinha mas só consegui ficar confusa. Não podia<br />

lembrar o que tomara. Não conseguia lembrar nada que fosse real. As alucinações

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