29.08.2019 Views

Jornal das Oficinas 166

  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

OPINIÃO<br />

PAULO MALHEIRO TOMÁS, BUSINESS COACH NA THROUGH THE NOUS<br />

E CEO DA AUTO DIESEL, LDA.<br />

(R)EVOLUÇÃO SOCIAL<br />

SEGUNDO UM ESTUDO DO WORLD ECONOMIC FORUM, A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A EVOLUÇÃO DAS<br />

MÁQUINAS, DURANTE OS PRÓXIMOS QUATRO ANOS, VÃO ACABAR, EM TODO O MUNDO, COM 75 MILHÕES DE<br />

POSTOS DE TRABALHO E CRIAR 133 MILHÕES DE NOVOS POSTOS<br />

Por outras palavras, em termos<br />

mundiais, a Indústria 4.0<br />

criará 58 milhões de novos<br />

postos de trabalho, que, por<br />

definição, serão funções diferentes<br />

<strong>das</strong> extintas. Na área <strong>das</strong> oficinas e<br />

suas congéneres, foi, recentemente,<br />

divulgado um estudo efetuado pelo<br />

UBS e publicado pelo Ministério da<br />

Indústria, Comércio e Turismo, na<br />

sua revista “Industrial Economics”,<br />

sobre Espanha, onde é afirmado que<br />

a chegada do veículo elétrico a esse<br />

país poderá significar a destruição de<br />

40 mil empregos, diretos<br />

e indiretos, no<br />

setor automóvel,<br />

nos próximos<br />

seis anos.<br />

A ausência de fábricas de baterias<br />

elétricas e semicondutoras, além<br />

da alta exposição a fabricantes de<br />

componentes, setor que num veículo<br />

elétrico terá menor peso e que agrega<br />

o potencial impacto económico<br />

do setor elétrico, poderá reduzir<br />

em 60% o volume de negócio <strong>das</strong><br />

oficinas, como resultado de menos<br />

componentes e do menor desgaste<br />

do veículo elétrico.<br />

Em Portugal, o McKinsey Global<br />

Institute e a Nova School of<br />

Bussiness and Economics efetuaram<br />

um estudo sobre a mesma temática<br />

e chegaram à conclusão que o nosso<br />

país perderá, até 2030, cerca de<br />

500 mil postos de trabalho. Este<br />

estudo tem já em linha de conta as<br />

entra<strong>das</strong> e saí<strong>das</strong> <strong>das</strong> novas funções.<br />

Segundo dados do INE (Inquérito<br />

ao Emprego, tendo como fonte<br />

a PORDATA e estando a última<br />

atualização datada de 6 de fevereiro<br />

deste ano), Portugal tem 5.232.600<br />

trabalhadores no ativo, prevendose<br />

a sua diminuição devido ao<br />

envelhecimento da população. Se<br />

contabilizarmos a diminuição da<br />

população ativa por envelhecimento<br />

e a diminuição do número de postos<br />

de trabalho devido à Indústria 4.0,<br />

passaremos para, aproximadamente,<br />

quatro milhões de trabalhadores<br />

ativos e 6,5 milhões de inativos,<br />

o que colocará em risco toda a<br />

estrutura de um estado social.<br />

No setor da manutenção e<br />

reparação de veículos, existem 7.300<br />

empresas regista<strong>das</strong> com este CAE<br />

(45200) que empregam 30.500<br />

colaboradores, que, na sua grande<br />

maioria, são micro empresas, sem<br />

capacidade de investimento nas<br />

novas tecnologias. Semelhante<br />

situação vai originar a que o mercado<br />

se torne polarizado, entre as muito<br />

grandes, com acesso à tecnologia, e as<br />

muito pequenas, sem acesso à mesma<br />

e sem capacidade para acompanhar<br />

a evolução do automóvel. Não será,<br />

pois, de estranhar, que os fabricantes<br />

ou os representantes destes em<br />

Portugal, tenham uma postura de<br />

mercado, mais fechada do que há uns<br />

anos. Se até aqui, apesar de muitas<br />

RECENTES<br />

ESTUDOS<br />

VIERAM TRAZER<br />

À TONA ALGUMAS<br />

ALTERAÇÕES<br />

SOCIOLÓGICAS,<br />

PREVISÍVEIS COM<br />

A INDÚSTRIA 4.0<br />

falhas, o regulamento europeu<br />

Block Exemption ainda funcionava,<br />

num futuro próximo deixará de ter<br />

qualquer utilidade. Sem a ajuda dos<br />

fabricantes, poucos serão os que<br />

conseguirão efetuar reparações nos<br />

novos veículos.<br />

Os investimentos necessários<br />

para reparar veículos elétricos e<br />

tecnologicamente evoluídos só<br />

estão ao alcance de poucos, quer em<br />

termos da formação e conhecimento<br />

necessários, quer em termos de<br />

aparelhos de diagnóstico e de<br />

intervenção nas viaturas. Estamos<br />

perante um novo paradigma. Dentro<br />

de cinco anos, teremos milhares<br />

de indivíduos com capacidade<br />

para trabalhar mas “inaptos” para<br />

as exigências do mercado. Por<br />

outro lado, existirá falta de mão de<br />

obra especializada neste setor em<br />

profunda mudança. Não se trata<br />

apenas de estar atento à evolução do<br />

setor da reparação automóvel. Estou<br />

profundamente preocupado com a<br />

falta de medi<strong>das</strong>, que já deveriam<br />

ter sido toma<strong>das</strong> em prol da nossa<br />

sociedade.<br />

A mudança já não acompanha os<br />

ventos. É mais rápida. O próprio<br />

pensamento corre sérios riscos de<br />

ficar para trás. Importa, por isso,<br />

repensar o modelo empresarial e<br />

dar a devida importância às pessoas,<br />

que, na realidade, são a essência de<br />

qualquer empresa! l<br />

12 Setembro I 2019 www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com<br />

12_Opinião_Paulo TomasREV.indd 12 24/08/2019 21:38

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!