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Traços 2

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ANO 1

Nº 2

JUNHO/JULHO

2021

PRISCILA DE BOM

Poços de Caldas - MG

Mineira amante

das palavras.

Graduada

em

Direito, pós-graduada em

Língua Portuguesa e Direito

Público. Servidora do

TJMG. Escrevendo palavras

e vivendo histórias. De lutas

e de glórias.

MANDINGA

Eis que a cidadã queria receber por

seu trabalho, posto que, segundo ela,

muito bem realizado.

O que o cliente almejava? O amor!

Sim. O amor, acredite. Nutria por aquela jovem

da qual falara um amor imenso. Tudo o

que precisava era que ela o enxergasse, que

ela o amasse, desejava ser correspondido, esperava

que se olhassem, se entrelaçassem, namorassem,

que fossem felizes para sempre, ou

...até que a vida os separe!

Mas o amor se compra ou só se encontra?

Bem... não vem ao caso. O caso era que a cidadã

era profissional no assunto. Intitulava-se

vidente e capacitada pra trazer ao ser humano

seu projeto de felicidade. Era o amor que ele

queria? Pois era o amor que ela venderia.

E como tudo na vida tem um preço, esse

“trabalho” além do preço, tinha um contrato.

Devidamente assinado, mas, é claro, sem

testemunhas. O amor da jovem a florescer,

retribuído a seu cliente em apenas algumas

semanas. Primeira parcela na assinatura do

contrato, restante quando do início do namoro.

Fico pensando o que passa na cabeça

de uma pessoa para assinar tal coisa.

Ou o desespero é imenso ou a falta de

discernimento, muito grande. Enfim...

o amor.

Eis que do serviço prestado: meia suja,

fio de cabelo, muitas velas acesas e outros

tantos ‘trabalhos’ na encruzilhada

(ela não disse que tinha um caldeirão,

embora eu esperasse ansiosa por essa

notícia!) o amor nasceu. Pareceu realmente

um bom ‘serviço’ prestado pela

cidadã. Não foi realmente fácil, tarefa

árdua, dias e noites de trabalho intenso. Mas,

enfim a garota amada o olhou, um belo dia se

encantou, semanas depois o namoro começou

e pasmem: estavam noivos!

Mas o restante do pagamento para a cidadã?

Nada.

Ainda pasma com o caso recebido, subi as escadas

até a sala do juiz:

— Dr.! Eis que alguém vende o amor. E nada

verbal, pois que há até contrato assinado.

Atônito, me olhou. Gargalhadas e mais gargalhadas.

Objeto ilícito ou impossível?

A cidadã nunca recebeu, ainda que a contragosto

desta que vos conta, a ação tenha sido

proposta com riqueza de detalhes que lhe

coube nos fatos, mesmo que falhos os fundamentos

jurídicos. E, é claro, extinta por quem

de direito, MM. Sr. Dr. Juiz. do Juizado Especial

da Comarca.

Pois foi que mais uma vez o amor venceu. E

apenas com o pagamento da entrada, diga-se

de passagem.

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