01.06.2021 Views

Traços 2

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ANO 1

Nº 2

JUNHO/JULHO

2021

EVA VILMA

Campo Grande - MS

Eva Vilma é escritora,

mãe, capoeirista

e educadora. Autora

e coautora de

livros infantis e de poesia,

busca na palavra escrita, outros

mundos possíveis.

DEZESSETE, COMO NO FILME

“Saudade é um pedaço de pensamento

que a gente decora com lembranças.

Outdoor de sinestesia.”

Escrevi este poemeto em novembro de

2016 querendo dar vazão a alguma

saudade que apertava o peito.

Hoje, acordei pensando que saudade

é uma caixa mágica guardadora das preciosidades

daquilo, daquela, daquele que não está

perto dos olhos da gente, e no entanto, nunca

sai do coração.

Ele tinha dezessete anos, como Héctor, do filme

Dezessete da Netflix.

Vivia em estado permanente de revolta.

Transbordava carências. Trazia as mãos em

concha, derramando sentimento bom, dando

de beber às securas no deserto de sua caminhada.

Ia flores/sendo em vida.

Wallace… Boca minha dizia seu nome como

fosse um grande herói de filme épico. Era herói

da vida real.

“Era assim todo

dia de tarde / a

descoberta da

amizade…”

Tinha dezessete

anos, como Héctor

do filme Dezessete.

Eu, professora,

vinte e

dois. Descobrindo

a não existência

da docência

sem discência.

Aprendendo que

meu trabalho de

professora, não

era meu trabalho

de professora comigo mesma, mas de professora

com minhas/meus alunas/alunos. Bebendo

inesgotável das fontes de Paulo Freire.

Era assim toda quinta de tarde. Os processos

da cena. O conhecimento do corpo. O movimento.

Expressão. Experiências de vida em

cena. O laço estreitado. O respeito mútuo. A

amizade. O cuidado. O olhar.

Tinha dezessete anos, como Héctor, do filme.

E como Héctor era impulsivo. E como Héctor,

era interrogado por policiais. E como

Héctor, tinha dores desolhadas e deslizes evidenciados.

E como Héctor amava uma mulher,

de um amor transbordante. Não a avó,

como Héctor, mas a mãe. E neste amor todo

confuso, às vezes a odiava, quando pensava

que sabia o que era melhor para ela e as coisas

não saiam do seu jeito. E às vezes a odiava

por não saber onde estava o seu pai. Odiava,

porque a amava demais para vê-la assim se

virando sozinha com o filho.

Tinha dezessete anos e teve uma amiga de

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!