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Traços 2

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ANO 1

Nº 2

JUNHO/JULHO

2021

CLARA

GERHARDT DAVID

São Mateus - ES

ANSIEDADE

se nada. Apenas um milissegundo de uma energia

intensa que rompe minhas paredes. E, de repente,

tudo que eu fiz, todo o esforço para me manter bem

e prosseguir, tudo... Acabou. Mas ela não para. Ela

faz eu pensar em me apaixonar por alguém assim

que o primeiro ei vem. E estraga tudo por avançar

demais. Ela me faz sofrer pelo dito e pelo não

dito. Ela me deixa só. Ela me faz querer estar só,

porque eu sou ruim, eu incomodo. Olha como eles

me olham. Eles não gostam de mim. Será que eles

gostam? Ela me mantém viva. Ela me faz querer

morrer para parar. Até em meus sonhos, o mar me

agarra e não me deixa fugir. De quê? De mim. De

pensar, sem parar.

PULA PARA OUTRA CENA. Enquanto todos esses

pensamentos eram descritos, eu andava embora

para casa, porque é muito perigoso ficar na rua a

essa hora. Mas ninguém está na rua com esse tempo.

Então eu ando e pulo as poças. Eu chego em

casa. Vou ao meu quarto. Eu quero beber. Para me

sentir melhor. Eu me entendo melhor quando estou

anestesiada. Diferencio o certo do errado e escolho

o errado porque eu mereço o pior. Eu bebo até

dormir. Falo umas besteiras aqui e ali. Eu durmo.

Eu acordo. Tarde. Desregulado o sono. Eu durmo

tarde. Eu vivo à noite. Eu penso. Noite. Dia. Tempo.

Horas. Tic. Tac. Invenção humana? Registro.

Memória. Apago. Deletar. Pensar. Será? Deixe estar.

Deixe ser. Deixe-me ser. O quê? Não sei. Quem

sou eu? Eu realmente não sei. Eu apenas invento

historinhas que querem ouvir sobre mim para mostrar

como sou apta para aquela oportunidade. Eu

me inventei. Então eu posso ser o que eu quiser. E o

que eu quero ser? Não de profissão... Quero dizer,

como eu quero ser? Um rock ou uma mpb? Um

kpop ou um maculelê? Um violino ou um ukulelê?

Moderno, boho chic, diyzado, estilizado, paleta de

beges, marrons, verdes, vinhos, azuis e preto. Sacada

para a praia. Cortinas leves. Cidade. Carro.

Sofá. Eu sou o que eu tenho. Eu sou o que eu penso.

Eu sou capitalismo, exagerado, jogado aos teus

pés, com uma oferta irrecusável (que realmente não

se recusa – ou você trabalha, ou morre de fome). Eu

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sou ecossocialismo, empático, renovável, envolvente

(até porque não se pode escapar dele, se não, o

mundo acaba e a gente acaba). Eu sou o mundo. Eu

sou China, Brasil, América Latina. Nosotros somos

la guerra, el escudo y la espada esperando matar

alguién a instancias de algo, para lograrmos éxito

en la vida. E só.

pedras, peixe-estranho como os que ganho. Vejo

mais. Murmurinhos sobre a diferença entre nós.

Em todo monte há tormenta. Nele veja se lamentas.

Veja seu pequeno mundo que te toca, o quanto ele

tem. Quantas pedras, coisas, emaranhado de travessos,

rebuliços, novos começos. Seguem tocadas

pelo oceano também? Superfícies transformadas,

desvaraidas, tresloucadas. Banhadas noite e dia pelas

águas atroz.

São pedras todas juntas na beira do cais. A saudade

aparta as ondas do pensamento. Entre elas um

vermelho invulgar, tão iguais aos seus olhos. Um

reflexo caótico de cores, tamanhos, pedras negras,

não pedras, peixe-estranho. Vejo mais. Em todo

monte lamentas. Quantas coisas seguem tocadas

pelo oceano. Superfícies transformadas. Voo pássaro

banhado noite e dia pelas águas atroz.

São pedras todas juntas na beira cais. Todos os

dias, são iguais aos seus olhos. Mas nelas vejo cores,

tamanhos, não pedras, peixe estranho. Vejo

mais, para além dos dias. Lembra do seu pequeno

mundo te toca? Que segue tocado pelo oceano.

Suas superfícies transformadas. Banhadas noite e

dia pelas águas que te traz.

São pedras todas juntas na beira cais. São iguais

aos seus olhos. Nelas vejo cores, tamanhos, não-

-pedras, peixe estranho. Vejo mais. Seguem tocadas

pelo oceano. Suas superfícies transformadas. Banhadas

noite e dia pelas águas que te traz.

São pedras todas juntas na beira cais. São iguais

aos seus olhos. Seguem tocadas pelo oceano. Banhadas

noite e dia pelas águas que te traz.

São pedras todas juntas na beira cais. Banhadas

noite e dia pelas águas que te traz.

São pedras todas juntas na beira do cais.

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