ANO 1Nº 2JUNHO/JULHO2021CLEBER PROFETASão Paulo - SPIMPRESSÕES DO COTIDIANOO movimento da rua segue o molejo desengonçado da meninaVejo as casas empilhadas no morro sinuosoDevagar, meu olhar analítico observa o senhor vigiando a mesma ruaO garoto vai atrás da pipa caindo vagarosamente, perto do campo de futebol.Enquanto volto para casa, sigo o morro sinuosoCrianças vigiam a pipa atrás do campo de futebolAs casas desengonçadas observam o molejo da meninaMeu olhar analítico vagarosamente cai no movimento da rua.Tem crônicas e poesiaspostadas noRecanto das Letras,poesia publicada naRevista Capivara e LetraLivre,crônicas publicadas no JornalExpresso - Camboriú- SC e poesiasem www.autores.com.br.44
ANO 1Nº 2JUNHO/JULHO2021DARLENE HONÓRIOMEDEIROSSantiago - RSProfessora de História,capoeira e violão,especialista emmusicalização infantil,artesã e apaixonadapor livros. Escreve poesias etextos desde a infância.www.instagram.com/darlaa_medeirosSOBRE O QUE DEVEMOS NOS PERMITIRAtesto, sem maiores ressalvas, queamor em caminho inverso, ao invésde amor in-verso, pode seramor real. Amarguras lapidamseres cansados que se encontram em corpose almas magoadas, machucadas, desacreditadas.Pouco esperam um do outro, mas comque confiança o fazem. As noites vão tomandonatureza de inverno, mesmo não tendo ooutono fugido de suas mãos. Há dias em quea chuva ligeira e gelada dá o ar de sua graça,enquanto as respirações multiplicam o vaporpara dentro dos corpos, das almas e dos espelhosem que o medo se reflete. Parece queé tarde, mas é sempre cedo. O tempo escorreapressado quan-do os abraços aquecem a pelee confortam a alma disfarçadamente camufladosde diversão. Não sabem ambos... Nãosabe ele, mal sabe ela. O amor em caminhoinverso é o mais perigoso. Nenhum dos doisama até ter perdido. Nenhum dos dois perdeaté acostumar-se a não dar valor. Nenhumdos dois quer usar palavras que interrompamciclos de movimento e iniciem ciclos de sentimento.Nenhum dos dois percebe. Os diasseguem sua conveniência. Eles falam sobrequalquer tolice, assuntos densos, piadas, promessascaladas, carícias ver-bais. Encontram--se diariamente mesmo não tocando com aponta dos dedos a face do outro. Não percebemque quando começam a ter sonhos éporque algo já não está como estava antes.Eles não comem juntos, não ocupam sofás,não vão ao cinema, não tem amigos em comum,não dançam juntos. Eles apenas fogemquando todos dormem, abraçam seus corposcom urgência, conversam com certa cautelae fazem perguntas com medo de ser invasivos.Eles se parecem mais do que conseguemadmitir... Têm mais medo de amar do queconse-guem esconder um do outro. Eles estãobrincando de amar ao contrário, enquantoo outono não os faz amar lentamente, adormecerum ao lado do outro, contar piadas ecomer batatas fritas, assistir filmes cujo finalpassará sem que o conheçam... O começo foium engano ao contrário. Um aceitou o outropela nomenclatura, muito mais do que pelasegurança. As primeiras palavras foram aporta aberta. Ambos sentiam uma necessidade.Seja ela qual for ainda não conseguiramcatalogá-la. Eles se perdem e se encontramtodos os dias. Palavras não podem sanar tudoaquilo que eles precisam para ser melhores.Ainda sentem falta do aconchego da tarde dedomingo e corpos em posição fetal adormecidos,um a proteger o outro enquanto a chuvafina cai. Eles estão aprendendo a pisar nos caminhosque levarão um ao outro. Demorarãopara admitir que podem estar se entregandosem perceber. Mas ao fim dos dias se seguindoe das palavras se acolhendo e dos corpos seabraçando, perceberão... Amor que começaao contrário, não termina... Renova as palavras,as frases, os dias, as necessidades... Dá amão ao que é novo e tem segurança... Mesmoquando é veloz tende a trazer tranquilidade equando passa das portas pra dentro e enxergaas paredes brancas tatuadas pela história decada um, aprende a decifrar as paixões maissecretas, a aliviar as dores mais agudas e adesprezar os minutos de ausência.45