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Traços 2

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ANO 1

Nº 2

JUNHO/JULHO

2021

MARIH DÜTRIEN

Curitiba-PR

Estudante, apaixonada

por escrever,

sendo a escrita o

motivo de sua sanidade

mental. Aspirante a

escritora desde os 12 anos

de idade, tem 17 anos. Sonha

em fazer da escrita sua

razão de viver.

DIÁLOGO

Apesar de termos feito tudo que fizemos,

ainda somos os mesmos?

Estou sozinha nessa. Você se foi,

contrariando as promessas veladas

que um dia me fizera. Talvez você também

esteja sozinho agora, e talvez, sozinhos,

nós dois ainda estejamos juntos. Talvez você

não se reconheça mais, assim como eu. Talvez

você ainda olhe para as memórias em um pêsame

saudoso. Não em uma esperança, claro,

essa ficou para trás no momento em que descobrimos,

sem querer, que fora tudo um acordo

unilateral. Sim, eu sabia que pontos de

vista são diferentes por natureza e conceito,

mas não sabia que olharia para o que já não

é mais com tanta distância e desestima. Eu,

perdida em devaneios como sempre sou, me

encontro em minha clausura, sufocada entre

o que passou e está por vir, interpelando-me

se foi tudo um delírio romantizado de minha

mente, se ela continua a romancear, se algum

dia irá parar, e assim faço-me vítima e autora

própria de meu sequestro.

E por onde começar a partir? Não diria luto,

pois há mais gratidão que arrependimento,

e menos saudade que um trêmulo desejo de

volta, ilegítimo nos momentos de sanidade.

Tem razão, sanidade nunca foi uma palavra

em nosso vocabulário, menos ainda agora em

desterro. Sei que tenho que escapar, de alguma

maneira, mas pelas razões certas, não por

desejo de distinções alheias. Não por vencimento,

ou validação, mesmo que esses infortúnios

desvirtuosos pertençam a mim, pois

duvido da veracidade que seguro há algum

tempo. Desde quando? Poderia dizer-te datas

exatas, com todos os segundos; porém, creio

que uma frase seria a mais exata maneira de

especificar o momento: quando minha orientação

se tornou meu destino.

Como você fazia para me segurar? Não se

preocupe, prometo que não te copiarei: não

pretendo desertar. Empurro-me, é verdade.

Mas não correrei. É a única certeza que tenho:

não pela impossibilidade, mas por uma

escolha forçada pelo resto de razão que me

resta. Aspiro conseguir ser minha própria fortaleza,

sem deixar que meus sentimentos me

afoguem ou que me falte água.

Só quero respirar novamente. Sentir-me em

casa, da mesma maneira que me enganava e

atribuía a sensação a você, não ao retrato que

externalizava constante e fluidamente quando

estava com você. Desta vez não irei me trapacear,

e escolherei não fazer de braços ou ouvidos

- muito bem seletores, por sinal - meu lar.

Agora, meu único objetivo é a subversão. Revolucionar-me.

Negar-me a tudo que não me

faça sentir intrínseca a minha essência. Qual

é ela? Respondo à sua pergunta com o questionamento

que me fez redigir e dirigir-me a

você: (Apesar de termos feito tudo o que fizemos)

ainda somos os mesmos?

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