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ANO 1
Nº 2
JUNHO/JULHO
2021
MARINA P. P. OLIVEIRA
Brasília - DF
Nascida em
terras geladas
e
distantes,
encontrou
seu lugar quando deitou raízes
no Cerrado de Brasília,
onde seus avós plantaram os
sonhos de uma vida melhor
para todos os seus descendentes.
A ESTRELA E O ELEFANTE
Parada no meio do terreiro de festa,
Lilica ouvia, de um lado, o som da
zabumba e da sanfona ensaiando e,
do outro, um vento forte de manhã
de inverno no sertão, tocando poeira fina em
todas as direções. De repente, sente alguma
coisa pregada na testa. Passa o dedo e vem
junto uma estrelinha azul de papel brilhoso
que nem sol de meio-dia.
Imediatamente, passa tudo de novo. Noite da
lua cheia mais enxerida da sua vida. Daquelas
que chegam tão perto da gente para espiar
que dá vontade de pedir licença. Lilica até falou
com ela, mas não adiantou, a danada continuou
seguindo a menina. Esperou as seis irmãs,
mais pai e mãe dormirem, e desceu pela
árvore, que cresce junto à janela do quarto.
Tudo com a lua espiando, interessadíssima!
Chegou pisando macio, igual ladrão profissional
de galinha, que passa a mão e leva
embora sem arrancar um pio das bichinhas.
Procurou no pé da lona um buraco grande o
suficiente para passar o corpo e entrou. Não
calculou que ia adentrar justo atrás do picadeiro.
Pior. O moço, motivo da aventura, estava
justamente ali treinando. Pode?
“Pelo menos aqui dentro a lua não pode espiar”,
pensou, tentando se acalmar e se vingando
da enxerida.
Há uma semana não se falava em outra coisa
na cidade. Em todas as bocas só tinha um
nome: Vikruuuum, ou Víííkrum, dependendo.
Mas era ele! O indiano que tinha vindo
do outro lado do mundo montado num elefante,
atravessado o sertão todinho atrás do
pife perfeito para fazer parelha com sua cítara.
Ou será citáara?! Lilica não estava bem
certa. Aliás, tinha certeza de estar era muito
errada, sem juízo, sem noção.
E antes que pudesse dar meia volta e sair por
onde entrou, deu de cara com ele.
“Vixe, Maria! Só pode ser assombração!
Bonito desse jeito!”, pensou Lilica, fazendo
o sinal da cruz. E ele riu ao ver a menina se
benzendo. E o
som que
saiu
daquela
boca desenhada
e cheia
de carne, fez cócegas
dentro da
orelha de Lilica e
aumentou a confusão.
Quando deu por si,
Lilica estava lá em
cima, perto do céu
de estrelas coloridas
da lona do circo. O
indiano era trapezista.
O ombro forte e
as faixas amarradas
no punho não enganavam.
Parecia
saído de livro.
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