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Revista Newslab edição 180

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muito alto, por exemplo, os valores<br />

desejáveis de LDL-c são abaixo de<br />

50mg/dL, ao passo que indivíduos<br />

com baixo risco cardiovascular<br />

essa meta se eleva para resultados<br />

abaixo de 130mg/dL. Portanto, a<br />

prescrição de estatinas não deve ser<br />

baseada apenas no resultado isolado<br />

de LDL-c ou colesterol total. 8<br />

Aos amantes da hematologia,<br />

relato aqui alguns erros graves de<br />

interpretação do hemograma. É<br />

muito comum a solicitação e avaliação<br />

do hemograma para triagem<br />

de casos suspeitos de deficiência de<br />

ferro ou anemia ferropriva, onde a<br />

anemia ferropriva é o estágio mais<br />

avançado da deficiência de ferro. As<br />

alterações laboratoriais da anemia<br />

ferropriva se instalam na seguinte<br />

ordem: redução de ferritina,<br />

redução do ferro sérico, redução<br />

de hemoglobina reticulocitária<br />

(HB-Ret), redução da hemoglobina<br />

e, por último, redução de VCM, HCM<br />

e CHCM (com aumento do RDW),<br />

caracterizando uma anemia microcítica<br />

e hipocrômica.<br />

Sendo assim, é possível que um<br />

hemograma de um paciente com<br />

deficiência de ferro e, ainda, sem<br />

a anemia ferropriva, esteja com<br />

os resultados da hemoglobina e<br />

índices hematimétricos dentro da<br />

referência, mas com redução dos<br />

níveis séricos de ferritina e ferro,<br />

por exemplo. Alguns estudos<br />

buscaram identificar qual seria o<br />

melhor ponto de corte de hemoglobina<br />

para identificar casos suspeitos<br />

da deficiência de ferro não<br />

anêmica, e demonstraram que os<br />

critérios de definição de anemia<br />

pela Organização Mundial de Saúde<br />

não são suficientes para rastreio<br />

e identificação de pacientes<br />

com deficiência de ferro, uma vez<br />

que o paciente pode apresentar<br />

deficiência de ferro sem a redução<br />

da hemoglobina nos estágios iniciais<br />

da anemia ferropriva. 9<br />

Em relação à leucometria global,<br />

embora os intervalos de referência<br />

variem entre 4.500-10.000/<br />

mm³, em média, alguns estudos<br />

demonstraram que valores acima<br />

de 6.500/mm³ estavam associados<br />

à um risco mais elevado do desenvolvimento<br />

de diabetes, justificado<br />

pela associação da inflamação com<br />

resultados mais elevados da leucometria<br />

global, embora dentro<br />

dos intervalos de referência. Um<br />

desses estudos demonstrou que<br />

a leucometria acima de 6.900/<br />

mm³ foi associada a um aumento<br />

de 52% do risco de desenvolver<br />

diabetes quando comparados<br />

aos indivíduos que apresentaram<br />

leucometria abaixo de 5.400/mm³.<br />

Os resultados destes estudos em<br />

associação com evidências práticas<br />

sugerem que a leucometria global<br />

desejável varie entre 4.500-6.500/<br />

mm³, aproximadamente. 10,11<br />

Portanto, interpretar exames<br />

laboratoriais não é um simples ato<br />

de “ler” e comparar números, mas<br />

uma arte de estabelecer correlações<br />

clínicas entre dados clínicos<br />

do paciente e os resultados dos<br />

exames. Esse olhar criterioso<br />

para os resultados, buscando os<br />

valores desejáveis baseados em<br />

evidências científicas e práticas,<br />

são fundamentais para detectar<br />

alterações clínicas em estágios<br />

iniciais e evitar a forma grave de<br />

diversas doenças que podem<br />

cursar de forma assintomática<br />

por longos períodos, incluindo a<br />

doença renal crônica e DM2, por<br />

exemplo. Os exames laboratoriais<br />

são ferramentas fundamentais<br />

para a prática de uma medicina<br />

preventiva e moderna quando<br />

interpretados à luz da ciência.<br />

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Study. Endocrinol Metab (Seoul): 390–397, 2019.<br />

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438–447, 2020.<br />

8-Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT,<br />

Afiune Neto A et al. Atualização da Diretriz Brasileira de<br />

Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras<br />

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Diabetes Res Clin Pract; 141:140-147, 2018.<br />

11-TWIG, G. et al. White blood cells count and incidence of type<br />

2 diabetes in young men. Diabetes Care; 36(2):276-282, 2013.<br />

RODOLFO FERNANDES.<br />

Farmacêutico Bioquímico. Mestre em Saúde, Medicina Laboratorial e Tecnologia Forense (UERJ);<br />

Especialista em Ciências do Laboratório Clínico & Diagnóstico in vitro (UFRJ); Escritor e autor<br />

do livro físico inédito no mundo “Interpretação clínica de exames laboratoriais na COVID-19”.<br />

Fundador da Academia das Análises Clínicas. Instagram: @rodolfofernandesprof.<br />

INFORME DE MERCADO<br />

<strong>Revista</strong> NewsLab Edição <strong>180</strong> | Novembro 2023<br />

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