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Indignava-se porque a própria Academia consagrava a ignorância teórica escudando-se<br />
no potencial da vocação: «A academia tem dado caracter official a este<br />
preconceito, dispensando os seus alumnos dos mais modestos conhecimentos. Os<br />
livros são para os litteratos, diz-se, e até hoje não chegou a comprehender-se que<br />
para o estudo da pintura historica é rasoavel preparatorio o estudo da historia.<br />
O que aprendem os paizagistas de mineralogia ou de botanica? os animalistas de<br />
zoologia? Nada, e se não vão alem de copiar servilmente, é talvez por mêdo de<br />
plantar á beira mar arvores que só frondejam nas cristas das serras, ou de fazer florir<br />
a amendoeira em agosto. Ha tal, que tendo cursado as aulas da academia, se acerta<br />
ouvir fallar em esthetica ou archeologia, vae perguntar ao Moraes o sentido d’estas<br />
palavras esdruxulas» 24 …<br />
Notava a existência de pinturas «que eram como janellas abertas para o campo, mas<br />
por essas janellas não se avistava o espirito do artista. Via-se o objecto, mas não o sujeito.<br />
Não figurava lá quem pudesse dizer como Rembrandt: quando deixo de pensar<br />
deixo de pintar. A arte rastejava pelo processo, e este apoucamento sentia-o bem<br />
quem passava da exposição dos pintores para a sala da esculptura, e contemplava<br />
D. Sebastião pensando na conquista de Africa» de Simões de Almeida. Contudo, observava:<br />
«Mas para converter esse adolescente no rei D. Sebastião meditando na<br />
conquista de Africa empregou recursos intellectuaes e um cabedal scientifico, que<br />
nas escolas se não ministra aos nossos artistas, porque exprimiu com o cinzel a<br />
compehensão acertadissima de um caracter e quasi de uma época inteira da historia<br />
patria, o que não é empreza para ignaros deshabituados de pensar». E concluía:<br />
«Eis-aqui como eu entendo a arte, eis como a arte plastica póde ser uma linguagem<br />
e a mais conceituosa de todas. A estatura de D. Sebastião decompõe-se, cada linha<br />
é uma idéa, e o conjuncto é uma historia ou um poema. O sr. Simões de Almeida<br />
permitiu á minha esthetica exemplificar-se e mostrar aos artistas como a sua aspiração<br />
não é um impossivel».<br />
Quanto à Teoria da Arte entendida como uma formulação que pretende orientar a<br />
prática ideológica e técnica do Artista e as suas concepções acerca da Arte, não era<br />
um tema particularmente versado na década de 70 em Portugal. As considerações<br />
que surgiram encontram-se em textos de géneros vários. Registe-se a importante<br />
diferença em relação à época anterior, nomeadamente até à primeira metade do<br />
século XIX. Nesse período houve uma extensa produção teórica, embora os textos<br />
24 Ibidem.<br />
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