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omântico, vigorou com persistência, ainda que fosse a natureza o padrão pelo qual<br />
a Arte se regia.<br />
II. A década de 80: o triunfo do Naturalismo<br />
e a procura da «terra incógnita»<br />
Avançando no tempo os principais temas da crítica nos anos 80 foram o Naturalismo,<br />
as manifestações artísticas dos centenários, o ensino artístico, e evidentemente<br />
os principais eventos, somando-se às exposições das Academias e da Promotora<br />
as exposições do Grupo do Leão em Lisboa, as Exposições d’arte, no Porto, e a<br />
importante Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portuguesa e Espanhola,<br />
entre outras.<br />
Na década de 70 observámos como existia uma intercepção dos conceitos de Realismo<br />
e Naturalismo, conceitos vacilantes e fluidos tanto no domínio da crítica,<br />
como nos parcos textos de teor especulativo. Ora se estes termos foram provenientes<br />
da literatura, sobretudo francesa, sendo nela usados como sinónimos, nas<br />
simplificações mais imediatas, não entendemos que o uso indistinto de um ou de<br />
outro termo, na década anterior, seja um escolho somente português. De facto,<br />
tanto no estrangeiro como em Portugal, muitos daqueles que se dedicavam à crítica<br />
das Belas-Artes vinham do mundo das letras, aplicando directamente os conceitos<br />
que efectivamente faziam parte da mesma conjuntura cultural.<br />
A verdade é que o conceito de Naturalismo, era o mais adequado para a Pintura<br />
que os Artistas portugueses realizavam e na década de 80, verificou-se que a adjectivação<br />
de «pintura realista» foi praticamente substituída. De facto, a distinção entre<br />
um termo e outro nunca foi clara e esse equívoco devia-se não só à sua complexidade,<br />
como à inconsistente solidez na definição e reflexão acerca dos conceitos,<br />
tanto no discurso Crítico, como na própria produção artística. Uma dessas hesitações<br />
manifesta-se num texto de Eça ao elaborar um prefácio “burlesco” para o livro<br />
Azulejos, do conde de Arnoso. Assim, ao definir-se a si próprio, emprega de modo<br />
significativo as duas qualificações - «um renegado do idealismo, um servente da<br />
rude verdade, um desses iligíveis, de gostos suínos que foçam gulosamente no lixo<br />
social, que se chamam “naturalistas” e que têm a alcunha de “realistas”?».<br />
Tal como fizera antes, ao escrever sobre o Realismo, quando especifica o termo<br />
Naturalismo opõem-no ao movimento romântico, usando para isso o substantivo<br />
“realidade” e não a palavra “verdade”, apanágio do movimento realista - «o natu-<br />
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