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e participação política.<br />
A fotografia foi entendida, neste período, como um mecanismo transgressor e revolucionário,<br />
uma vez que as suas capacidades técnicas o colocavam como o interlocutor<br />
estratégico de uma Nova Visão. As dinâmicas de aceitação artística do<br />
objecto fotográfico foram sempre, durante o final do século XIX, inseridas numa<br />
relação da fotografia com o figurativo, e nas diversas e nem sempre lúcidas questões<br />
acerca da fotografia como concorrente imbatível na representação do real. O que<br />
explica certamente o desenvolvimento da representação fotográfica pictorialista de<br />
plasticidade desse mesmo real, a que o movimento Photo-Secessionist liderado por<br />
Alfred Stieglitz (1864-1946) deu fundamento.<br />
A intensa experimentação e derisão dos modelos representacionais vigentes a que<br />
as vanguardas se dedicaram tiveram, no domínio da fotografia, um médium que<br />
permitiu explorar de forma inédita dois aspectos essenciais: a expansão das relações<br />
euclidianas do objecto com o espaço e a importância da luz como elemento tecnológico<br />
de expressão estética.<br />
Nesta vertente, a fotografia inflecte o domínio figurativo e de relação com o real<br />
a que se tinha dedicado, para retornar à prática pura do trabalho de laboratório,<br />
tomando como tema fulcral as propriedades da luz e da imagem latente na sua<br />
interacção com os objectos, numa técnica assente na fotografia sem câmara, apenas<br />
no manuseamento da luz e da superfície sensível. Em termos específicos, assiste-se<br />
a uma profusão de trabalhos assentes numa arqueologia fotográfica que remonta aos<br />
primórdios da sua invenção, e cuja essência técnica mais não é do que a reinvenção<br />
dos desenhos fotogénicos de William Henry Fox Talbot (1800-1877), sob a designação<br />
modernista de fotogramas.<br />
Independentemente da própria guerrilha de autoria a que os fotogramas foram<br />
sujeitos, entre surrealistas e construtivistas, o que se torna mais significativo é a assimilação<br />
com intuitos estéticos opostos de uma mesma linguagem fotográfica, com<br />
resultados formais idênticos.<br />
Man Ray (1890-1976) é o artista que ficará historicamente ligado à reinvenção do<br />
fotograma, associando o seu nome à técnica – rayograma-. Contudo, a exponencialidade<br />
da experimentação da luz no papel fotográfico não pode, nem deve, ser vista<br />
como uma produção autoral. A amplitude e dinâmica, tanto do Dadaísmo como do<br />
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