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izontais e pelo arrastamento do corredor em pleno salto. A percepção operante<br />
de toda a imagem passa a ser então a velocidade, intensificada pela sobreposição de<br />
planos e oposição de linhas contrárias.<br />
Mas se a velocidade constituía a referência do modelo visual vanguardista, a quebra<br />
dos ângulos de visão tradicionais secundava-lhe em importância. Alexander Rodtchenko<br />
(1891-1956), foi o artista russo que por excelência entendeu a câmara<br />
fotográfica como o instrumento fracturante dos ângulos de visão comuns. Para<br />
Rodtchenko, a fotografia permitia que todas as coisas fossem vistas de múltiplos<br />
ângulos possíveis, através da recusa do plano do olhar ou do meio-corpo, já que este<br />
se inseria num conceito classicista e renascentista de visão, a que o Construtivismo<br />
se opunha. O objecto devia ser fotografado de diversos pontos e em várias posições,<br />
“não façam fotopinturas, façam fotomomentos de valor documental, de modo a<br />
acostumar as pessoas a verem de novos pontos de vista, é essencial tirar fotografias<br />
todos os dias, e de temas familiares, a partir de inesperados pontos de vista e posições<br />
(…) E os mais interessantes pontos de vista, hoje em dia, são aqueles vistos de<br />
cima para baixo, de baixo para cima e as suas diagonais.” 4<br />
A fotografia Escadas de incêndio (1925), revela de forma sintética o ideário visual de<br />
Rodtchenko, em que estava em jogo não o que se fotografava mas como se fotografava.<br />
A ideia de uma revolução visual como garante e plataforma mental para<br />
uma revolução social e política é, porventura, um dos traços mais significativos do<br />
seu trabalho e da importância com que a fotografia passa a ser utilizada nos círculos<br />
artísticos da vanguarda russa. Para o Construtivismo, a fotografia e a máquina fotográfica,<br />
através da subversão das suas próprias capacidades técnicas, permitia romper<br />
com as lições de perspectiva clássicas, o fotógrafo era o operador da mudança duma<br />
história visual cujos fundamentos já não eram meramente estéticos, antes tinham-se<br />
instituído como uma parte integrante da revolução social e política. Não admira,<br />
portanto, que Manifestação (1932) tivesse este tratamento visual inusitado, independentemente<br />
do domínio da fotografia, neste caso, mais aproximado ao objectivismo<br />
da foto-reportagem, a revolução do modo de olhar do fotógrafo devia ser sempre<br />
imperante, era essa irreverência do olhar que constituía a essência da mensagem<br />
fotográfica construtivista, não o significado do tema.<br />
4 Alexander Rodtchenko “Puti sovremennoi fotografi” (os caminhos da fotografia moderna) originalmente publicado<br />
in Novi lef, nº 9 (1928), compilado in Photography in the Modern Era- European Documents and Critical Writings<br />
1913-1940, New York, Moma/Aperture, 1989, p.261<br />
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