Edição Especial - Faap
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O Mercosul não é para<br />
principiantes<br />
José Botafogo Gonçalves*<br />
Resumo: Este artigo analisa o processo de integração sulamericana;<br />
em especial, o futuro do Mercosul a partir da<br />
perspectiva de seus sócios-maiores, o Brasil e a Argentina. O<br />
trabalho faz um recuo histórico político-econômico das políticas<br />
praticadas pelos dois países, avaliando as diferenças estruturais que<br />
ainda persistem no campo bilateral. A partir da enumeração de<br />
algumas dessas diferenças, procura-se identificar medidas que<br />
tenham sentido estratégico a serem negociadas entre os dois, no<br />
intuito de superar os efeitos paralisantes que marcam a conjuntura<br />
de crise do Mercosul. Segue-se, então, apresentando medidas<br />
conciliatórias que solucionem esses impasses e façam o Mercosul<br />
avançar. Por fim, propõe-se uma ação conjunta entre o Centro<br />
Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e seus congêneres na<br />
Argentina, Paraguai e Uruguai para que suas contribuições sejam<br />
diretamente encaminhadas para a Secretaria Pró-Tempore do<br />
Mercosul e se convertam em práticas políticas.<br />
Palavras-chave: Mercosul, integração, Brasil e Argentina, Infraestrutura,<br />
Institucionalização.<br />
O Mercosul vive, hoje, momentos difíceis, reflexos de causas conjunturais<br />
e estruturais que, se não superadas e resolvidas, comprometerão seriamente a<br />
relevância da instituição como promotora da integração regional e do<br />
desenvolvimento de seus países-membros. Desde 1998, com o modesto<br />
crescimento brasileiro, o Mercosul mergulhou numa crise conjuntural sem<br />
precedentes, afetando gravemente a Argentina (perda de 20% do seu produto<br />
bruto), o Uruguai e o Paraguai.<br />
A conjuntura atual parece bem mais promissora para os quatro países da<br />
região, segundo estimativas de órgãos multilaterais como o BID e Cepal, ou<br />
nacionais de cada país. São boas notícias, mas revelam uma excessiva dependência<br />
da instituição Mercosul de situações conjunturais que, como sabemos, tendem a<br />
ser cíclicas. Em outras palavras, o Mercosul não tem conseguido agir, como<br />
instituição regional, com suficiente força e eficácia para contrabalançar os efeitos<br />
inibidores do desenvolvimento econômico e social provocado por conjunturas<br />
recessivas. O grande termômetro dessa fragilidade institucional se mede pelo<br />
volume e natureza do comércio bilateral Brasil e Argentina.<br />
Desde 2003, com o início da recuperação argentina, o comércio bilateral<br />
voltou a crescer, em particular as exportações brasileiras, embora exibindo<br />
novos e inusitados elementos, a saber: a) reversão da tendência histórica de<br />
* José Botafogo Gonçalves é presidente do Conselho Curador do Cebri e foi embaixador na Argentina<br />
de 2002 a 2004. Nota: Este artigo foi concluído em agosto de 2006.<br />
Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(edição especial), 2006