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A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial

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né... porque às vezes é <strong>uma</strong> coisa às vezes é outra... não é... não é... <strong>uma</strong> coisa<br />

assim... mas... mas é assim mesmo... as regras que t<strong>em</strong> são essas... acho que as<br />

normas <strong>de</strong> quase todas as <strong>em</strong>presas são igual... mais ou menos parecida assim...<br />

muda alg<strong>uma</strong> coisa... pouca coisa...<br />

A partir da análise das escolhas linguísticas e do tom valorativo do enunciado acima,<br />

observamos que, para o trabalhador, o meio não é o mesmo, é preciso reconhecer as novas<br />

situações (“porque às vezes é <strong>uma</strong> coisa às vezes é outra”); entretanto, se as normas são<br />

s<strong>em</strong>elhantes, quase iguais (“mais ou menos parecida assim”; acho que as normas <strong>de</strong> quase<br />

todas as <strong>em</strong>presas são igual”), como lidar com isso? O papel do supervisor para este sujeito é<br />

o <strong>de</strong> estabelecer o prescrito, o <strong>de</strong> dizer o que se <strong>de</strong>ve ou não fazer, ou seja, a norma v<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

fora, é dita por alguém. Mesmo assim, se “isso diariamente muda”, também o papel do<br />

supervisor varia, ou ele é qu<strong>em</strong> precisa adaptar as normas ao dia a dia? É como se a<br />

responsabilida<strong>de</strong> das renormalizações também recaísse sobre o outro, no caso, o supervisor,<br />

que o entrevistado reforça pela repetição do substantivo que nomeia o colega <strong>em</strong> cargo<br />

superior ( “supervisor”) e pelo intensificador “mesmo”. Este indivíduo, <strong>em</strong> interlocução com<br />

a entrevistadora, constitui-se na relação dialógica com o outro (no caso o supervisor). Dando<br />

a impressão <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho é algo simples no início do enunciado (“ele te<br />

coor<strong>de</strong>na e <strong>de</strong>u... diz o que t<strong>em</strong> que fazer e o que não t<strong>em</strong> que fazer”), o trabalhador<br />

reconhece a mudança como algo constitutivo da prática laboral, ao enunciar “isso diariamente<br />

muda... né... porque às vezes é <strong>uma</strong> coisa às vezes é outra”.<br />

Ainda com relação a normas, consi<strong>de</strong>rando as respostas dadas à pergunta citada<br />

anteriormente, é possível observar que os trabalhadores, <strong>em</strong> princípio, não as reconhec<strong>em</strong><br />

como tais, como se regulamentos não existiss<strong>em</strong>. A partir do momento <strong>em</strong> que a pesquisadora<br />

provoca o dizer dos sujeitos, acabam surgindo pistas discursivas on<strong>de</strong> as prescrições po<strong>de</strong>m<br />

ser i<strong>de</strong>ntificadas. Notamos que, por não ser<strong>em</strong> explícitas, claramente nomeadas, os<br />

funcionários <strong>de</strong>monstram dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver as normas e <strong>de</strong> reconhecê-las como regras e/ou<br />

regulamentos. Sab<strong>em</strong>os, entretanto, que, na realização das ativida<strong>de</strong>s laborais, alguns<br />

prescritos 38 são observados, mesmo que o trabalhador não tenha essa percepção. Se assim não<br />

fosse, o indivíduo precisaria criar constant<strong>em</strong>ente um modo <strong>de</strong> agir a cada situação, o que é<br />

inviável. No trecho a seguir, extraído da entrevista feita ao funcionário, aqui nomeado<br />

Guilherme, observamos a transcrição <strong>de</strong> <strong>uma</strong> sequência <strong>de</strong> ações que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizadas,<br />

que pedidos necessitam ser atendidos com priorida<strong>de</strong>.<br />

38 Aqui estamos consi<strong>de</strong>rando prescritos como <strong>uma</strong> das faces do trabalho prescrito conforme Telles e Alvarez<br />

(2004, p. 67), ou seja, as normas, as or<strong>de</strong>ns e os resultados a ser<strong>em</strong> obtidos.

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