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A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial

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trabalhador está ligada não à ausência <strong>de</strong> riscos, mas à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentá-los, com<br />

<strong>uma</strong> gestão ligada à sua história, à sua experiência. Além disso, nas situações <strong>de</strong> trabalho, a<br />

responsabilida<strong>de</strong> diante do risco po<strong>de</strong> ser compartilhada pela coletivida<strong>de</strong> na qual o<br />

trabalhador está inserido.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong> ser, portanto, entendida como <strong>uma</strong> dramática <strong>de</strong> usos <strong>de</strong> si,<br />

uso <strong>de</strong> si por si e pelo outro (SCHWARTZ, 2007e), o que implica reconhecê-la como lugar <strong>de</strong><br />

negociação entre normas antece<strong>de</strong>ntes, reguladoras do fazer, e renormalizações <strong>de</strong>correntes da<br />

inscrição do sujeito na ativida<strong>de</strong>. Desse processo <strong>de</strong> negociação, saberes práticos são<br />

engendrados para lidar com a imprevisibilida<strong>de</strong> inerente ao exercício profissional. Trabalhar é<br />

s<strong>em</strong>pre um drama no sentido <strong>de</strong> que envolve o trabalhador por inteiro, é o espaço <strong>de</strong> tensões<br />

probl<strong>em</strong>áticas, <strong>de</strong> negociações <strong>de</strong> normas e <strong>de</strong> valores.<br />

Na ativida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> trabalho, há s<strong>em</strong>pre um campo <strong>de</strong> lutas. E, nesse campo <strong>de</strong><br />

lutas, há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscar saídas, escapes, <strong>de</strong>svios, novos rumos. Para lidar com as<br />

variabilida<strong>de</strong>s que se apresentam, o trabalhador se engaja por inteiro, a cada momento, com<br />

seu corpo biológico, sua inteligência, sua afetivida<strong>de</strong>, seu psiquismo, sua história <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />

relações com outros indivíduos. É o que Schwartz (2007e) <strong>de</strong>signa como corpo-si. Não se<br />

trata apenas do corpo físico, biológico – <strong>em</strong>bora ele esteja presente nessa <strong>de</strong>signação –,<br />

engloba também o consciente ou cultural, ou seja, “nossa experiência <strong>de</strong> vida [...] nossas<br />

paixões, [...] nossos <strong>de</strong>sejos [...]” (SCHWARTZ, 2007e, p. 199). Com um caráter enigmático,<br />

o corpo-si acumula, segundo Schwartz (2007e, p. 202-203, grifo do autor), três dimensões:<br />

– [...] é o corpo inserido na vida; é o corpo a partir do fato <strong>de</strong> que somos parte do<br />

mundo da vida. [...] o “si” é inseparável [...] da evolução da vida;<br />

– [...] o “si” é domado. Ele está, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, <strong>em</strong> um universo <strong>de</strong> cultura<br />

que, precisamente, é muito diferente do meio vivo, porque ele é atravessado e<br />

saturado <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong> histórias, <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong> normas antagônicas. [...] Tudo é<br />

perpassado <strong>de</strong> técnicas, normas, valores e <strong>de</strong> construção social.[...];<br />

– e o “si” é também a história, digamos, psíquica. Aquela da qual falou Freud e<br />

outros, ou seja, a história – <strong>uma</strong> outra dramática – da passag<strong>em</strong> do “homenzinho”,<br />

do hom<strong>em</strong> e da mulher, a um mundo que ele não criou, no qual ele é mortal e há<br />

todos os tipos <strong>de</strong> normas, regras e leis com as quais seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ve se <strong>de</strong>frontar, é<br />

também <strong>uma</strong> baita história!<br />

É na ativida<strong>de</strong>, com suas dramáticas, que o corpo-si se manifesta <strong>em</strong> toda a sua<br />

complexida<strong>de</strong>. Com <strong>uma</strong> carga cultural, histórica, <strong>em</strong>ocional, atravessado por valores e<br />

saberes, integrando corpo biológico e mente, o corpo-si constitui o indivíduo e lhe dá meios<br />

<strong>de</strong> transgredir, <strong>de</strong> enfrentar os <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> normas, <strong>de</strong> arbitrar a distância existente entre o<br />

trabalho prescrito e o trabalho real. Dessa forma, ao fazer escolhas, baseando-se <strong>em</strong> seus<br />

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