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A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial

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indivíduos tendo a mesma resposta às diversas situações. Cada um respon<strong>de</strong> ao meio social,<br />

ao outro, a si mesmo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira única, a partir <strong>de</strong> suas próprias vivências, <strong>de</strong> seus<br />

valores, fazendo suas escolhas, suas transgressões, utilizando seus saberes, estabelecendo seus<br />

limites e suas obrigações. Mesmo que haja normas e prescrições (explícitas ou não) nesse<br />

campo <strong>de</strong> trabalho, é o sujeito que resolve se vai ou não cumprir <strong>de</strong>terminada obrigação; ele<br />

vai se responsabilizar por suas opções, quer saiba disso ou não. Quando escolhe agir <strong>de</strong> certa<br />

maneira, conscient<strong>em</strong>ente ou não, o indivíduo renormaliza as regras, os regulamentos, os<br />

modos <strong>de</strong> fazer, o que só ele po<strong>de</strong> fazer <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado momento.<br />

A partir dos nove segmentos discursivos analisados <strong>em</strong> que <strong>de</strong>stacamos sobretudo o<br />

<strong>em</strong>bate entre os usos <strong>de</strong> si, po<strong>de</strong>mos perceber o quanto é singular a reação <strong>de</strong> cada indivíduo<br />

para gerir a imprevisibilida<strong>de</strong> do trabalho. Uma das características da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvida na <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> parafusos que os dois entrevistados enunciam é a<br />

heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tarefas que cada um precisa realizar. Entretanto o modo como eles lidam<br />

com esse aspecto é b<strong>em</strong> diferente. Observamos que, <strong>em</strong> três segmentos, a avaliação que Luís<br />

Felipe faz <strong>de</strong>ssa heterogeneida<strong>de</strong> do meio laboral que requer <strong>de</strong>le muita flexibilida<strong>de</strong> é<br />

positiva, tanto por se a<strong>de</strong>quar ao seu jeito <strong>de</strong> ser, como por lhe oferecer <strong>de</strong>safios e<br />

proporcionar aprendizag<strong>em</strong>. Ele não parece ver a polivalência que a situação <strong>de</strong> trabalho lhe<br />

solicita como um probl<strong>em</strong>a. Na fala <strong>de</strong> Guilherme, entretanto, não perceb<strong>em</strong>os o mesmo<br />

ponto <strong>de</strong> vista. Constatamos que, pelo menos <strong>em</strong> quatro segmentos, este funcionário não lida<br />

com tranquilida<strong>de</strong> frente às exigências do seu labor. Transparece, <strong>em</strong> seu discurso, um<br />

sofrimento causado pela falta <strong>de</strong> pessoal, pela variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos com que lida e sobre<br />

os quais precisa apren<strong>de</strong>r, pelas cobranças dos colegas. Somente <strong>em</strong> um segmento, Guilherme<br />

aponta essa variabilida<strong>de</strong>, mas não chega a fazer <strong>uma</strong> valoração negativa. Há ainda outro<br />

enunciado <strong>de</strong> Luís Felipe, <strong>em</strong> que verificamos como ele diz gerir as dificulda<strong>de</strong>s no dia a dia.<br />

Com um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste trabalhador, po<strong>de</strong>mos notar que, neste caso, o fato <strong>de</strong> ser flexível e <strong>de</strong><br />

ter múltiplas funções, acaba ajudando-o a solucionar probl<strong>em</strong>as, pedindo a ajuda dos<br />

supervisores. Assim, ressaltamos que a flexibilida<strong>de</strong> requerida nesse meio laboral afeta<br />

Guilherme <strong>de</strong> maneira b<strong>em</strong> diferente da <strong>de</strong> Luís Felipe. Enquanto este se adapta facilmente às<br />

múltiplas funções que exerce, aquele <strong>de</strong>monstra sentir certa dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> gerir essas<br />

inconstâncias. São os <strong>em</strong>bates constantes e singulares entre o uso <strong>de</strong> si por si e o uso <strong>de</strong> si<br />

pelo outro a que os sujeitos precisam lançar mão para enfrentar as infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s do meio.<br />

Esse espaço heterogêneo, flexível, complexo, pleno <strong>de</strong> conflitos é o lugar <strong>em</strong> que se dão<br />

as interações entre os trabalhadores. É nessa interação eu/outro que nos <strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os para a<br />

análise na próxima seção <strong>de</strong>ste capítulo.<br />

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