A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial
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valores e saberes, o corpo-si ressingulariza a ativida<strong>de</strong> nas dramáticas do uso <strong>de</strong> si<br />
(SCHWARTZ, 2007a).<br />
Essa ativida<strong>de</strong> é, por isso, s<strong>em</strong>pre realizada e vivenciada <strong>de</strong> forma singular,<br />
personalizada e diferenciada, marcando o distanciamento entre o que é prescrito e o que é<br />
efetivamente realizado. Entretanto, o ser h<strong>uma</strong>no não age individualmente. Aí é que está o<br />
drama, segundo Schwartz (2007e). Quando escolhe trabalhar com <strong>de</strong>terminada pessoa, esteja<br />
ela presente, pessoalmente ou não, ocorre um engajamento do(s) outro(s). Essa noção <strong>de</strong><br />
outro se refere a “conjuntos <strong>de</strong> estatutos muito diversos [...] muito obscuros”, porém<br />
“entida<strong>de</strong>s coletivas relativamente pertinentes.” (SCHWARTZ, 2007e, p. 193). Po<strong>de</strong>-se dizer<br />
que esses outros se encontram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a preparação do trabalho, nas normas, nos conselhos, até<br />
as avaliações, enfim, explícita ou implicitamente, o coletivo está presente nas <strong>de</strong>cisões<br />
individuais. Mesmo <strong>em</strong> suas escolhas mais íntimas, o indivíduo, ao optar por um ou por outro<br />
procedimento, está optando pelo tipo <strong>de</strong> relação que terá com os outros e com o mundo <strong>em</strong><br />
que vive. Há <strong>uma</strong> dialética nesse processo, <strong>uma</strong> negociação entre o individual e o coletivo.<br />
Ter a clareza <strong>de</strong> que a vida é renormalizada <strong>de</strong> forma permanente, a cada ativida<strong>de</strong>, a<br />
cada cotidiano, po<strong>de</strong> trazer consequências interessantes. Po<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, colocar os<br />
indivíduos <strong>em</strong> situações mais privilegiadas ao negociar espaços coletivos <strong>de</strong> trabalho,<br />
<strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com a experiência, <strong>de</strong> colocar questões e antecipar os<br />
probl<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> resolvidos. Devolve aos indivíduos a crença <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> (co)construtores <strong>de</strong><br />
sua própria história. Assim sendo, a responsabilida<strong>de</strong> por essas arbitragens é pessoal, não<br />
seria possível <strong>de</strong>svencilhar-se <strong>de</strong>la (o não-álibi <strong>de</strong> Bakhtin 20 ), mesmo que a construção possa<br />
ser coletiva. Afinal, os outros atravessam as dramáticas do trabalho.<br />
O conceito <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> si chama a atenção para a complexida<strong>de</strong> do h<strong>uma</strong>no. E qu<strong>em</strong> faz<br />
esse uso? Existe um uso <strong>de</strong> si por si – aquele uso que cada um faz <strong>de</strong> si próprio, a<br />
renormalização singular realizada pela ativida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na – e um uso <strong>de</strong> si pelo outro, isto é,<br />
as condições históricas que são dadas e que são produtoras <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>. Não estabelecer<br />
essa tensão contraditória entre esses dois usos é acreditar que o trabalhador é um ser h<strong>uma</strong>no<br />
passivo, reprodutor, que apenas sofre os impactos dos <strong>de</strong>terminismos históricos, econômicos e<br />
sociais. Se as condições históricas são um já-dado (prescrição), o trabalho efetivamente<br />
realizado (assim como a vida) nunca é apenas isso, pois o h<strong>uma</strong>no não só varia, mas produz<br />
variações. Nesse sentido, as pessoas praticam, o t<strong>em</strong>po todo, <strong>uma</strong> gestão <strong>de</strong> si como <strong>uma</strong><br />
20 Este conceito encontra-se explicitado na subseção O ato ético responsável (2.1.1).<br />
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