A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial
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pedido ajuda”), porém as infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s do meio não lhe permitiram, e o trabalhador,<br />
angustiado, lamenta-se: “às vezes acontece... acontece né <strong>em</strong> qualquer lugar... acontece <strong>de</strong> a<br />
gente não l<strong>em</strong>brar... não l<strong>em</strong>brar... né?... aí é um erro do funcionário... mas é um erro...”<br />
Novamente a l<strong>em</strong>brança do “erro” a martirizar. E a repetição do “né” como a pedir<br />
confirmação, seja <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> for: do interlocutor, do colega, do supervisor e até <strong>de</strong> si mesmo.<br />
Suas escolhas aparec<strong>em</strong> permeadas <strong>de</strong> conflitos, in<strong>de</strong>cisões; seu dizer está repleto <strong>de</strong> outras<br />
vozes, é internamente dialogizado. Também perceb<strong>em</strong>os, nesse enunciado, a comparação,<br />
mesmo que sutil, entre a ativida<strong>de</strong> no setor <strong>em</strong> que Guilherme está trabalhado e a <strong>de</strong> colegas:<br />
enquanto o seu setor é dinâmico, exigindo agilida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z (“pô a gente na maior<br />
correria”), os ven<strong>de</strong>dores estão parados (“os ven<strong>de</strong>dor tão tudo parado lá na frente... não t<strong>em</strong><br />
cliente”). Há valoração negativa do trabalho do outro: enquanto há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda <strong>em</strong><br />
um setor, o outro, mesmo parado, não se dispõe a auxiliar. S<strong>em</strong> mencionar explicitamente<br />
essa crítica, parece-nos que Guilherme a <strong>de</strong>ixa nas entrelinhas. O enunciador prefere ressaltar<br />
o fato <strong>de</strong> não l<strong>em</strong>brar <strong>de</strong> pedir ajuda (“acontece <strong>de</strong> a gente não l<strong>em</strong>brar... não l<strong>em</strong>brar... né?) a<br />
pôr <strong>em</strong> prática esse pedido. Talvez solicitar auxílio seja difícil para ele.<br />
Luís Felipe, ao enunciar sobre probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> interação, <strong>de</strong>monstra um modo <strong>de</strong> reagir<br />
diferente dos colegas. Em vez <strong>de</strong> enfrentar e/ou conversar sobre o probl<strong>em</strong>a, ele prefere virar<br />
as costas a bater boca. Entretanto esse mesmo funcionário também respon<strong>de</strong> que,<br />
primeiramente, prefere conversar com o colega com o qual o conflito se <strong>de</strong>u. Se não conseguir<br />
resolvê-lo, opta pelo silêncio e não dá queixa a seu supervisor.<br />
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Segmento 20 – Luís Felipe:<br />
É que eu não sou muito... é difícil assim porque eu não sou muito <strong>de</strong>... <strong>de</strong>... eu não<br />
bato <strong>de</strong> frente com ninguém... né... eu... a minha arma mesmo... a minha maior<br />
<strong>de</strong>fesa é assim... eu viro as costas e saio caminhando... eu não discuto não bato<br />
boca... com ninguém até na minha vida pessoal... <strong>em</strong> casa assim... sou assim... sou<br />
tranquilo não sou <strong>de</strong>...<br />
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Geralmente eu vou conversar com a pessoa... né... procuro não passar pelo<br />
supervisor... é <strong>uma</strong> coisa que eu procuro não passar... né... vamos supor... ter que<br />
chegar no supervisor e dizer... fazer <strong>uma</strong> queixa do colega tal... procuro me acertar<br />
com ele... se não <strong>de</strong>r certo... eu simplesmente isolo um pouco o cara ... falo só o que<br />
t<strong>em</strong> falar... t<strong>em</strong>o que pegar essa coisa... então digo oh vamo pegar essa coisa... só<br />
isso que eu vou dizer... não vou esten<strong>de</strong>r o assunto... é só isso... procuro não bater<br />
<strong>de</strong> frente... né... não bater <strong>de</strong> frente... porque aí o cara per<strong>de</strong> a educação... já per<strong>de</strong><br />
tudo... já per<strong>de</strong> os limites também... aí fica meio complicado...<br />
Mesmo que possa parecer um pouco confuso <strong>em</strong> princípio, notamos, no discurso <strong>de</strong><br />
Luís Felipe, certa segurança no seu modo <strong>de</strong> agir e se posicionar. Este sujeito usa <strong>uma</strong><br />
linguag<strong>em</strong> firme, com <strong>uma</strong> entonação expressiva ao <strong>em</strong>pregar o pronome <strong>em</strong> primeira pessoa,