A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial
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Prosseguindo na análise <strong>de</strong>sse enunciado, logo na parte inicial do segmento,<br />
perceb<strong>em</strong>os a renormalização individual que Leandro evoca principalmente nas palavras que<br />
<strong>de</strong>stacamos: “t<strong>em</strong> regulamentos <strong>em</strong>... mas é mais acho que pessoal sabe”. No final <strong>de</strong>sse<br />
primeiro trecho, ao concluir “o regulamento acho que na verda<strong>de</strong> ali é cada pessoa que faz<strong>em</strong><br />
né” (grifo nosso), parece-nos que a i<strong>de</strong>ia da renormalização que cada trabalhador faz dos<br />
regulamentos é enfatizada. Além disso, mesmo que a palavra regulamento seja reiterada no<br />
trecho acima (ela aparece explícita <strong>em</strong> <strong>de</strong>z ocorrências), sab<strong>em</strong>os que o sentido se renova a<br />
cada ocorrência. Po<strong>de</strong>mos observar, entre os vários sentidos que perpassam essa palavra no<br />
enunciado <strong>de</strong> Leandro, o da renormalização da ativida<strong>de</strong> feita por cada indivíduo<br />
(“regulamentos... pessoal”; “cada pessoa que faz<strong>em</strong>”), o da prescrição propriamente dita, mas<br />
que se diferencia <strong>em</strong> cada setor (“o televendas”, “a venda interna e o balcão”, “o estoque”, “o<br />
estoque geral”) e o da própria ausência <strong>de</strong> normas (“não t<strong>em</strong> regulamento certo na<br />
conferência”). Em três ocorrências, o fato <strong>de</strong> o regulamento estar adjetivado (“especial”,<br />
“primeiro”, “certo”) manifesta com mais clareza o acento <strong>de</strong> valor que o funcionário parece<br />
dar ao que consi<strong>de</strong>ra mais importante entre as normas, ou seja, “a atenção” e “o<br />
relacionamento com os colegas <strong>de</strong> serviço”. A palavra atenção também se repete no<br />
enunciado <strong>de</strong> Leandro o que pensamos ser <strong>uma</strong> valorização <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong> como regulamento,<br />
intensificando o quanto ela é consi<strong>de</strong>rada importante na realização das tarefas. Com sentido<br />
renovado a cada evento, na primeira ocorrência, “atenção” está diretamente ligada a<br />
“regulamento especial”. A seguir, o intensificados “bastante” ressalta a importância da atitu<strong>de</strong><br />
exaltada. A “atenção” é ainda consi<strong>de</strong>rada “o primeiro regulamento” (grifo nosso) e, por fim,<br />
<strong>em</strong> “o pessoal prestar atenção”, notamos que a atenção é constitutiva da ativida<strong>de</strong> para este<br />
trabalhador.<br />
Po<strong>de</strong>mos observar ainda, pela análise do enunciado anterior, que Leandro reforça o<br />
<strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> normas <strong>de</strong> seu setor quando busca a confirmação da interlocutora na<br />
repetição do “né”. Sab<strong>em</strong>os que essa interlocutora/pesquisadora, para qu<strong>em</strong> o trabalhador<br />
dirige seu discurso e seu pedido <strong>de</strong> aprovação, não é do ramo e, por isso, não conhece a<br />
situação <strong>de</strong>scrita. Talvez não seja apenas <strong>uma</strong> comprovação exterior que o sujeito pretenda<br />
mas também <strong>uma</strong> interna (um autoconvencimento), como se precisasse <strong>de</strong> <strong>uma</strong> justificativa<br />
para si mesmo, por ainda não conhecer as regras, apesar <strong>de</strong> estar num processo <strong>de</strong><br />
aprendizag<strong>em</strong> (“arrecém eu tô apren<strong>de</strong>ndo”). Leandro não se sente dono da situação para<br />
po<strong>de</strong>r explicá-la. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, reparamos, na afirmação <strong>de</strong>sse enunciador <strong>de</strong> que está<br />
apren<strong>de</strong>ndo “como é que funciona como é que não funciona”, que as normas antece<strong>de</strong>ntes<br />
ainda precisam ser conhecidas para que possa haver um retrabalho, <strong>uma</strong> renormalização, nas<br />
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