A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial
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A partir das falas sobre a relação com os colegas, Leandro menciona a maneira como<br />
cost<strong>uma</strong> solucionar os probl<strong>em</strong>as interacionais que surg<strong>em</strong>. Observamos que o trabalhador<br />
reconhece sua irritação inicial, mas diz que ela não <strong>de</strong>mora muito a passar e que logo ele tenta<br />
se aproximar <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> provocou esse sentimento, pedindo <strong>de</strong>sculpas (uso <strong>de</strong> si por si).<br />
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Segmento 13 - Leandro:<br />
Isso... tento... num primeiro momento... senti no momento da dor assim que floresce<br />
aquilo ali... fica irritado fica bravo... mas passou quinze... vinte minutos tento já<br />
matar aquilo ali já tento já vou falar com a pessoa não tenho vergonha <strong>de</strong> pedir<br />
<strong>de</strong>sculpa mesmo sendo errado mesmo tando certo muitas vezes eu aprendi isso que<br />
muitas vezes tando certo a pessoa vai [...] porque quando duas pessoas brigam as<br />
duas acham que tão certas né... na verda<strong>de</strong> aquilo eu tô certo eu tô certo então eu<br />
não me importo... na verda<strong>de</strong> eu tento corrigir aquilo ali mesmo sendo certo oh<br />
<strong>de</strong>sculpa tá eu errei contigo... oh vamo esquecer isso aí vamo trabalhar... s<strong>em</strong>pre<br />
assim oh todo probl<strong>em</strong>a que eu tive aqui s<strong>em</strong>pre tentei fazer isso aí... tentei fazer<br />
isso aí... ou se não [...] brinco com ela... tento amenizar acredito que t<strong>em</strong> que ser<br />
assim até na nossa vida [...] eu tento consertar pra não alimentar <strong>uma</strong> coisa<br />
maior... eu s<strong>em</strong>pre tento consertar imediatamente o mais rápido possível enquanto é<br />
pequeno... mesmo eu sendo certo... pra mim não importa se eu tô certo ou errado eu<br />
tento consertar pra mim não é vergonha isso aí...<br />
O entrevistado mostra gradualmente <strong>em</strong> seu discurso como se dá o conflito, narrando-o<br />
n<strong>uma</strong> sequência t<strong>em</strong>poral (“num primeiro momento”; “no momento da dor”; “irritado fica<br />
bravo... mas passou quinze... vinte minutos tento já matar aquilo ali”), ou seja, ele se permite<br />
um t<strong>em</strong>po para resolver o impasse e, <strong>de</strong>pois disso, enfrenta-o (ou não), sujeitando-se a ser<br />
consi<strong>de</strong>rado “errado” para que “as coisas” se acomo<strong>de</strong>m. Leandro imagina o diálogo ou faz<br />
<strong>uma</strong> simulação do que seria dito para se resolver o conflito. Seu enunciado é orientado para a<br />
resposta do outro (“porque quando duas pessoas brigam as duas acham que tão certas... né”).<br />
Assim, diante da presunção <strong>de</strong> que o outro vai se consi<strong>de</strong>rar “certo”, este sujeito toma a<br />
iniciativa e se antecipa dizendo “oh <strong>de</strong>sculpa tá eu errei contigo... oh vamo esquecer isso aí<br />
vamo trabalhar...”. “O discurso vivo e corrente está imediata e diretamente <strong>de</strong>terminado pelo<br />
discurso-resposta futuro: ele é que provoca essa resposta, pressente-a e baseia-se nela”<br />
(BAKHTIN, 1993, p. 89).<br />
Interessante ainda assinalar o modo como Leandro explica a relação entre “certo” e<br />
“errado”, palavras citadas constant<strong>em</strong>ente nesse e <strong>em</strong> outros trechos da entrevista. O discurso<br />
<strong>de</strong>sse trabalhador também consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância solucionar o conflito antes que<br />
ele adquira proporções maiores, n<strong>em</strong> que, para isso, o indivíduo tenha que abdicar <strong>de</strong> estar<br />
“certo”. Este sujeito, inclusive, mostra o que apren<strong>de</strong>u sobre as pessoas com relação a estar ou<br />
não com a razão (uso <strong>de</strong> si pelo outro).