A Atividade de Trabalho em uma Empresa Comercial
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Seguindo a relação eu/outro, faz-se necessário discorrer sobre a noção <strong>de</strong> exotopia, que<br />
consiste no olhar que se t<strong>em</strong> sobre o outro, colocar-se <strong>de</strong> fora para avaliar o que o outro faz. A<br />
exotopia está relacionada à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> acabamento, <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um todo, o que po<strong>de</strong> ser<br />
observado pelo exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> visão (BAKHTIN, 2006a) que permite que o eu veja o outro <strong>de</strong><br />
um ponto <strong>de</strong> vista que ele mesmo (o outro) não po<strong>de</strong> se ver. Esse exce<strong>de</strong>nte é condicionado<br />
pelo lugar que o eu é o único a ocupar no mundo. Somente esse eu, com seu exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
visão, po<strong>de</strong> completar o outro, colocando-se no lugar <strong>de</strong>le, vendo o mundo através <strong>de</strong> seus<br />
valores. Voltando <strong>de</strong>pois a si mesmo, o sujeito recupera seu próprio lugar para, fora do outro,<br />
po<strong>de</strong>r dar acabamento a ele (ao outro).<br />
Quando um sujeito cont<strong>em</strong>pla o outro que está fora e diante <strong>de</strong>le, seus horizontes<br />
concretos não coinci<strong>de</strong>m: cada um dos sujeitos s<strong>em</strong>pre verá e saberá algo que o outro, na<br />
posição <strong>em</strong> que se encontra – externamente e diante <strong>de</strong>le –, não po<strong>de</strong> ver.<br />
Esse exce<strong>de</strong>nte da minha visão, do meu conhecimento, da minha posse – exce<strong>de</strong>nte<br />
s<strong>em</strong>pre presente <strong>em</strong> face <strong>de</strong> qualquer outro indivíduo – é condicionado pela<br />
singularida<strong>de</strong> e pela insubstituibilida<strong>de</strong> do meu lugar no mundo: porque nesse<br />
momento e nesse lugar, <strong>em</strong> que sou o único a estar situado <strong>em</strong> dado conjunto <strong>de</strong><br />
circunstâncias, todos os outros estão fora <strong>de</strong> mim. [...] O exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> minha visão<br />
<strong>em</strong> relação ao outro indivíduo condiciona certa esfera do meu ativismo exclusivo,<br />
isto é, um conjunto daquelas ações internas ou externas que só eu posso praticar <strong>em</strong><br />
relação ao outro a qu<strong>em</strong> elas são inacessíveis no lugar que ele ocupa fora <strong>de</strong> mim;<br />
tais ações completam o outro justamente naqueles el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> que ele não po<strong>de</strong><br />
completar-se (BAKHTIN, 2006a, p. 21-23, grifo do autor).<br />
Sob essa perspectiva, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a compreensão/interpretação como um ato<br />
que se realiza do exterior, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> posição externa, porém participativa e não indiferente. “É<br />
impossível <strong>uma</strong> compreensão s<strong>em</strong> avaliação” (BAKHTIN, 2006d, p. 378), s<strong>em</strong> julgamento, e,<br />
por isso, há, no mínimo, “dois centros <strong>de</strong> valor”, o do eu e o do outro, que se mantêm outros,<br />
ou seja, permanec<strong>em</strong> n<strong>uma</strong> posição exotópica e axiológica (PONZIO, 2010, p. 30). A<br />
compreensão não <strong>de</strong>ve ser entendida “como <strong>em</strong>patia e colocação <strong>de</strong> si mesmo no lugar do<br />
outro (a perda do próprio lugar)” (BAKHTIN, 2006d, p. 377).<br />
Na sequência, tendo <strong>em</strong> vista a proposta <strong>de</strong>sta pesquisa, que aborda a inter-relação entre<br />
a linguag<strong>em</strong> e as práticas laborais, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>os os pressupostos teóricos que tratam do<br />
trabalho.<br />
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