ESPAÇOS DE LEITURA SUMÁRIO - TV Brasil

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PROPOSTA PROPOSTA PEDAGÓGICA PEDAGÓGICA Edimir Perrotti1 Ao falarmos de leitura, é comum pensarmos de imediato em textos, livros, autores. "Ah, aquele texto que eu li, quando estava na oitava série!". "E aquele livro que falava de um 'homem barata'. Até hoje tenho fascínio e pesadelo!". "Meu autor predileto? O Saramago". "Eu não! Gosto mesmo é da Clarice Lispector! Mas poeta é o Drummond". Pois é. Grandes autores, grandes livros, grandes textos deixam marcas tão intensas em nossas vidas – que graça teria a leitura, se não fosse assim! –, que acabamos muitas vezes achando que a leitura acontece fora do espaço e do tempo, somente num cosmo impalpável, além da órbita terrestre, num não-lugar. Sem dúvida, é preciso reconhecer: a leitura que conta, aquela que efetivamente toca, toma, agarra, essa institui um espaço/tempo interior esplêndido, com características distintas do mundo físico, concreto, objetivo em que nos movemos: memória, imaginação, pensamento, afetos, emoções, sensibilidade são algumas das forças mobilizadas e mobilizadoras dessa leitura que configura uma experiência única e inigualável. Se gostamos, se somos arrebatados pelo texto, a viagem interna é grande e, como se diz com freqüência, esquecemos o mundo! O grande Proust, escritor francês, num belo texto sobre a questão, relata as delícias inigualáveis das viagens literárias de sua infância. Quem é adulto hoje, se quando criança encontrou, por exemplo, com Lobato, com as artes da Emília, com o Sítio do Picapau Amarelo, entende perfeitamente Proust. Com isso, não é possível negar que a leitura é uma experiência interior magnífica, uma forma importantíssima e insubstituível de negociação de sentidos, de significados, um complexo e esplêndido jogo entre o texto e o leitor. Embate linguístico, a leitura é um fenômeno de ordem simbólica que extrapola os impuros territórios marcados por nossos desejos e interesses imediatos e cotidianos. De tal forma que muitas "leituras proveitosas" foram indicadas a moços e moças de antigamente. Acreditava-se que as boas leituras podiam purificar as almas. ESPAÇOS DE LEITURA. 2 .
Se é certo ou errado esse ideal de purificação, de salvação pela palavra escrita, se ele continua vivo ou não, não vem aqui ao caso. O que conta, efetivamente, é que essa compreensão idealizante desviou nossa atenção e deixamos de atentar para o outro lado do espelho. Em outras palavras, a atenção concentrada apenas no processo interior, psicológico, da leitura impediu-nos de considerar outras questões essenciais e igualmente importantes à formação de leitores. Deixamos, assim, de considerar especialmente os aspectos socioculturais da leitura, ou seja, a trama histórica indispensável que a viabiliza e sustenta. Negligenciamos os circuitos da leitura, tratamos ações, instituições e lugares sociais concretos como mero pano de fundo, adorno inócuo, dispensável e secundário. Nessa linha de raciocínio reducionista, deixamos de considerar as mediações socioculturais como categoria intrínseca ao ato de ler, tomando a este como uma atividade abstrata, descolada das situações concretas em que se dá. Desse modo, não estranha que em nosso país os espaços de leitura sejam desconhecidos e desconsiderados, vistos apenas como ponto de apoio, peça secundária nos processos educativos e culturais. Tudo se passa como se bastasse oferecer bons textos e bons autores a nossos alunos para que, imediatamente, eles se pusessem a ler. As demais instâncias de mediação seriam meramente secundárias, acessórias. Ora, pelo menos duas visões dos processos de conhecimento, de aprendizagem estão implicadas nessa discussão que, a princípio, parece rasteira. Na primeira, acredita-se que aquele que aprende supera, por meio de qualidades pessoais, os quadros históricos e culturais em que se encontra e é capaz de aprender, de se interessar pelo conhecimento e pela cultura, independentemente dos contextos favoráveis ou não que lhe são oferecidos. Na segunda, acredita-se que a construção de conhecimentos e a aprendizagem, apesar de atos irredutivelmente subjetivos, pessoais e intransferíveis, ocorre em interações sociais e que os modos como a dinâmica social se organiza e funciona são parte atuante desses processos. Desse modo, se na primeira visão não importa em demasia o modo como os textos, os livros, a leitura chegam, por exemplo, às crianças, aos jovens –"o que importa é oferecer os livros", dizem os defensores desta postura –, na segunda, cuida-se da criação de ambientes favoráveis ao ato de ler, de não fazer apenas chegar os livros aos leitores, mas de preparar espaços e tempos de leitura capazes não só de oferecer materiais para a leitura, mas de sensibilizar, de vincular, de promover interesse pelos conteúdos que ela veicula. Trata-se, assim, de criar instâncias de mediação de leitura que, além do acesso físico aos livros, promovam a ESPAÇOS DE LEITURA. 3 .
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