ESPAÇOS DE LEITURA SUMÁRIO - TV Brasil

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do cargo, que ela adorava também ler na cama, principalmente romances picantes. Não passava a noite lendo, porque não podia. Se chegasse atrasada, o dono da escola descontava. E o salário não era demais. Pesquisa Escolar - Pesquisar é gostoso, professora! exclamou a menina no meio do trabalho. Pois é. E tão gostoso que tem gente que pensa que pesquisar é como mamar. Nasceu, já sabe fazer. É só mandar para a biblioteca. Pronto. Mas não é assim, não. Os prazeres intelectuais, como os da garota, exigem cuidados, trabalho, construção. São culturais, não naturais. Demandaram aprendizagem da menina e dos educadores, esforço e atitudes constantes, apoio do meio em que vive. Não caíram do céu, não. Antigamente, quando ir para a escola era ato possível só para uns poucos, essas aprendizagens pareciam naturais. A maioria das crianças provinha de meios letrados e boa parte desenvolvia competências e comportamentos que, de tão vinculados ao meio ao qual pertenciam, pareciam obras exclusivas da natureza. Eram uma espécie de segunda pele. - Ah, fulano de tal aprende matemática com tanta naturalidade! - Nossa, Zizinha sabe falar francês como se tivesse nascido lá! Sem, claro, deixar de considerar os talentos especiais de cada um, não dá para confundir o que é inato com o que demanda trabalho, ação, persistência, educação. A maioria de nossas crianças não procede de meios letrados, não está espontaneamente inserida nos circuitos da cultura da escrita, da ciência, do conhecimento formal. Seus repertórios, suas práticas, suas experiências culturais são em geral de outra ordem. Assim, não é possível mandá-las à biblioteca sem orientação nenhuma, sem ensinar a biblioteca - é isso mesmo, ensinar a biblioteca, não dar aula de biblioteca. Se não compreende a diferença, volte ESPAÇOS DE LEITURA. 24 .
ao tópico Pedagogia Cultural e Pedagogização da Leitura, que vai compreender. Reler é ótimo, muitas vezes é indispensável -, é falta total de percepção pedagógica, para dizer o mínimo. Ir à biblioteca sem orientação: para começo de conversa, como chegar lá ? Todo mundo sabe? Se a cidade é pequena pode ser fácil, mas nem sempre. Uma vez, levei três meses para conseguir chegar numa. E era uma cidade bem pequena. Tinha me mudado para lá, voltando da França, e queria viver perto do mar. Além das praias limpíssimas, tinha coqueiros, areias brancas e macias, dunas, lagoas, céu estreladíssimo, rios, ilhas... fantástico. Mas cadê a biblioteca? Tem ? - Tem sim, todo mundo respondia. O professor, o juiz, o padre, o advogado, homens das letras.. - Onde ? - Sei, não. Era aqui, na Praça da Graça! - Hum... Três meses para achar a salinha escondida, com os livros encaixotados. - A gente teve que sair de lá, e não tem ainda lugar pra ficar, respondeu um funcionário. Me diga o que quer, eu procuro e quando achar levo na sua casa. O senhor é o novo diretor da escola, não é? Mora ali, na Praça Santo Antônio? - Como sabe ? - É que eu passo lá todo dia... E a prosa foi longe. Ficou amigo. Os livros, nunca achou. Recebeu ordens para não mexer nas caixas. Era perigoso sumir ou sair de ordem... ESPAÇOS DE LEITURA. 25 .
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