Baixar - Brasiliana USP
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lisongea-se, cornludo, em. sua vaidade, com o epitheío de<br />
cruel; nunca se zanga de ser desobedecida por excesso de<br />
amor : este sentimento justifica-se em si mesmo, porque a<br />
resistência excita e ínflamma, e então uma liberdade aulorisando<br />
outra, a mulher, que cede o mais ligeiro favor, vê-se<br />
obrigada a tudo perdoar, pois que está vencida, sem haver<br />
succumbido.<br />
Uma vez subjugada, a mulher não pôde mais ser livre; é<br />
mais fácil para ella, viver sem contrato algum, que limi- « /tar-se<br />
a um só, quando ousa dar o primeiro passo (1 ),-**•- *»y6V««wV<br />
Ella liga-se por seus favores, aos que a recebem; a qualidade £^<br />
de libertino nem sempre é nociva, mesmo para as mais prudentes,<br />
que se lisongeam de serem as reformadoras. As mulheres,<br />
são libertinas de coração, segundo um poeta inglez.<br />
Platão assegura, que ellas primeiro foram rapazes depravados,<br />
e accrescenta, que as mais determinadas espertalhonas<br />
estão bem longe do desagradar-lhes :<br />
Et mentem Venus ipsa dedit.<br />
Que se examine quão pouco ellas se estimam naturalmente<br />
entre si, por serem rivaes; que suas amizades nunca chegam<br />
a sacrificar-se a uma paixão; que os únicos laços que<br />
as podem prender, são os segredos do amor, que mutuamente<br />
temem, que se nâolraiam. Quantas vezes lambem se não<br />
ouvem essas meias palavras, esses epygrammas, e. essas picantes<br />
reticências, que as impustoras.e mesmo as devotas,<br />
(1) Não é bem cruel, para os melhores maridos verem precisamente<br />
as mulheres mais devassas, a maior parle das vezes por causa de<br />
sua mesma indulgência? Não queremos por provas senão os dous imperadores,<br />
Antonino, e Marco-AureKo, que esposaram as duas Fauttinas,<br />
mãi e filha, ambas infames por seus desregramentos desenfreados,<br />
e no entanto ambas collocadas por seus esposos na classe das<br />
deosas, a ponto de serem honradas publicamente nos templos depois<br />
de mortas.<br />
O imperador Cláudio, foi certamente um marido paciente e commodo,<br />
e evidentemente levado ao excesso por Messatina, e todavia tudo<br />
lhe teria perdoado.— Estamos convencidos, que a mulher, que franqueia<br />
seus favores á outro homem, que não o seu primeiro amante,<br />
franqueia a quantos a provoquem. O primeiro passo dado, o véo mysterioso<br />
do pudor rompe-se, e tudo esta perdido: ordinariamente a verdadeira<br />
amante, que sente a morte do seu amado, se sobre-vive, é para<br />
morrer depois em tormentos de dor e de saudades.