Baixar - Brasiliana USP
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- 232 —<br />
temor, o Pudor, toma todo seu império, quando se trata<br />
com pessoas com quem nunca se teve familiaridade; a confiança,<br />
aviva amizade, o habito de se verem, quo conduz<br />
emfim os dous amantes aos últimos penhores d'um amor sem<br />
reserva, não subsiste em nenhum dos dous, como uma pessoa<br />
extranha; então nada contrabalança ao temor que inspira,<br />
principalmente ao sexo mais fraco, á approximação<br />
dos momentos convulsivos de prazer; receia este estado novo,<br />
dahi provêm os temores, as inquietações, os obstáculos, a<br />
defesa e a fuga. Instruído pelas primeiras experiências,<br />
que é um caminho para quem deseja prazeres, e que ó para<br />
esse fim, que é pretendida da parte d'outro sexo, quer esteja<br />
disposta a goza-los, ou a dar-se de má vontade, a mulher,<br />
que não quer excitar esses movimentos no homem terá cuidado<br />
de evitar tudo que puder despertar a idéa, e induzir alguém<br />
a formar sobre ella pretenções, que está resolvida a<br />
não favorecer. Nesse intuito, occnltará aos homens tudo,<br />
o que de perto ou de longe, poder sua presença atear fogos<br />
que ella não quer apagar e excitar desejos, que está resolvida<br />
a não satisfazer; menos precauções a esse respeito as<br />
exporia a solicitações, que talvez descahiram com custo.<br />
Desta sorte o Pudor, que nasce do temor de accender desejos<br />
n'aquelles á quem se não quer satisfazer, não poderia<br />
ser conhecido de dous amantes, que só tem por únicas testemunhas<br />
elles mesmos. Adão e Eva, não o experimentaram,<br />
emquanto foram os únicos humanos sobre a terra;<br />
o que sentiam só tinha por fim precaverem-se contra a repetição<br />
mui freqüente de seu próprio ardor; era contra si<br />
mesmo, que queriam estar em guarda: d'outro lado é verosimil,<br />
que depois do que sentiram, tivessem medo, que deixando<br />
descobertas as partes por onde haviam peccado,<br />
seu Creador, não conhecesse o novo estado em que se tinham<br />
posto e que á vista desse estado, não depozesse contra elles,<br />
os transportes a que indiscretamente se haviam entregado;<br />
por isso Deos lhes disse: « Donde soubestc tu que<br />
« estavas nu, senão porque comeste da arvore, de que Eu<br />
« te tinha ordenado que não comesses? (Gen. cap. 3 v. 11}.<br />
Se o Pudor, que toma precauções contra os assaltos daquelles<br />
a quem não quer favorecer, não pôde ser conhecido de<br />
dous amantes, que se crêm únicos no mundo; será certamente<br />
de todas as pessoas sensíveis, que vivem em socieda-