Baixar - Brasiliana USP
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pria para nutri-la e faze-la crescer; é animada de seu calor,.<br />
e vive tanto da vida que lhe communica, como da sua própria.<br />
Assim não será para sorprender, que as paixões que agitem<br />
a mãi passem ao filho. A communicação, que torna isso<br />
possível, existe: a creança, toma intima relação com o utero<br />
pela planceta e pelo cordão umbelical. E 1 verdade, que não<br />
se vêem nervos nessas partes; mas para que a vida circule e<br />
vá d'um lugar á outro, não é necessário que as parles sejam<br />
unidas por tramas nervosos; basta que exista entre ellas livre<br />
intimidade. Os nervos são cordões necessários nos animaes<br />
destinados a produzir grandes movimentos, ou a carregarem<br />
grandes pesos; porém todos os corpos organisados<br />
delles não precisam. Um dos phenomenos, que podem servir<br />
para provar esse commercio reciproco, e essa communidade<br />
de movimentos vitaes que existem entre a mãi e o feto, são<br />
as creanças acephalas, isto é, que nascem sem craneo e sem<br />
cérebro; morrem assim que nascem, pois que essas partes<br />
são essenciaes e necessárias ao homem, que vive de sua própria<br />
vida; o feto sem ellas vive, porque deve á mãi uma parte<br />
da força que o anima, e que suppre os órgãos que lhe faltam.<br />
Um dos autores (1), dos menos dispostos á crerem nos effeitos<br />
da imaginação sobre o filho, depois de haver esgotado<br />
de todo a sciencia da anatomia, para provar a impossibilidade<br />
d'uma transmissão das affecçõesda mãi ao filho, é forçado<br />
á confessar, que os filhos são sugeitos, durante a vida,<br />
a convoluções, porque soffre-as durante a gravidez, feridas<br />
de grande terror ou d'outra paixão viva. Esse autor disse,<br />
que pela falta de nervos, que estabelecem a communicação<br />
entre a mãi e o feto, únicos meios, pelos quaes os movimentos<br />
se podem transmittir á mãi, não pôde fazer experimentar<br />
ao filho o que sente. Porém se, como elle mesmo confessa,<br />
uma communicou á seu filho as convulsões causadas por<br />
um forte terror, é evidente que a mãi, pôde fazer o feto partilhar<br />
de suas affecções, sem intermediário soccorro de<br />
nervos.<br />
Mallebranche, como todos sabem, deo ao poder da imaginação<br />
a maior extensão. Muitos autores emprehenderam refutá-lo;<br />
porém os meios de que se serviram são muito vicio-<br />
(1) Haller, Elem. Phy.iol. Comp. hum. Tom. 8, lib. 20. pag. A50,