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Não conte a ninguém

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Tinha de ir em frente.<br />

Mas para onde?<br />

Meus olhos começaram a se adaptar ao escuro, o suficiente<br />

para ver formas indistintas. Caixas estavam empilhadas ao<br />

acaso. Havia pilhas de trapos, algumas cadeiras de bar, um<br />

espelho quebrado. Ao ver meu reflexo no vidro, quase caí<br />

para trás. Havia um talho na minha testa. Minhas calças estavam<br />

rasgadas nos dois joelhos. Minha camisa estava esfarrapada<br />

como a do Incrível Hulk. A fuligem era tanta que eu<br />

poderia trabalhar como limpador de chaminés.<br />

Para onde ir?<br />

Uma escada. Tinha de haver uma escada em algum lugar.<br />

Fui tateando, movendo-me numa espécie de dança espasmódica,<br />

abrindo caminho com a perna esquerda como se<br />

fosse uma bengala de cego. Pisei sobre cacos de vidro.<br />

Continuei avançando.<br />

Ouvi o que me pareceu um resmungo, e uma gigantesca<br />

pilha de trapos se ergueu à minha frente. Algo semelhante à<br />

mão de um homem se estendeu em minha direção como que<br />

saída da tumba. Contive um grito.<br />

– Himmler adora filés de atum! – ele gritou para mim.<br />

O homem – sim, agora eu via claramente que se tratava de<br />

um homem – começou a se levantar. Era alto e negro e tinha<br />

uma barba tão grisalha e crespa que parecia estar comendo<br />

uma ovelha.<br />

– Está me ouvindo? – gritou o homem. – Ouviu o que eu<br />

disse?<br />

Ele avançou na minha direção. Eu me encolhi.<br />

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