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Não conte a ninguém

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Os anos não haviam poupado o xerife Lowell, mas pudera,<br />

ele nunca fora nenhum Mel Gibson. Era um sujeito meio<br />

asqueroso, com um aspecto tão servil que faria Nixon parecer<br />

um vencedor. Tinha a ponta do nariz extremamente redonda<br />

e inchada. Vivia pegando um lenço surrado, desdobrando-o,<br />

assoando o nariz, dobrando-o cuidadosamente de novo e<br />

enfiando-o no bolso de trás.<br />

Linda chegou. Ela se inclinou para a frente no sofá, pronta<br />

a me defender. Era assim que costumava se sentar. Trata-se<br />

de uma daquelas pessoas que sempre dão ao outro total e exclusiva<br />

atenção. Quando ela fitava alguém com aqueles<br />

grandes olhos castanhos, não se conseguia olhar para mais<br />

<strong>ninguém</strong>. Sou suspeito para falar, mas Linda é a melhor pessoa<br />

que conheço. Meio brega, sim, mas sua existência faz com<br />

que eu tenha esperança neste mundo. E o fato de ela me amar<br />

serve de consolo de tudo o que perdi.<br />

Sentamo-nos na sala de estar de meu avô, coisa que,<br />

sempre que posso, evito. A sala era decadente, arrepiante e<br />

conservava o cheiro de gente velha. Difícil respirar ali. O<br />

xerife Lowell levou algum tempo até se adaptar. Assoou de<br />

novo o nariz, apanhou um bloco do bolso, umedeceu o dedo<br />

com saliva, procurou a página que queria. Ofereceu-nos o<br />

mais amigável de seus sorrisos e começou:<br />

– Vocês se incomodariam de dizer quando estiveram pela<br />

última vez no lago?<br />

– Estive lá no mês passado – disse Linda.<br />

Mas os olhos do xerife estavam voltados para mim:<br />

– E você, Dr. Beck?<br />

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