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Não conte a ninguém

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2<br />

EM CASA, TIVE OUTRO CHOQUE do passado.<br />

Moro do lado da Ponte George Washington, que liga Manhattan<br />

a Nova Jersey – no bairro residencial tipicamente<br />

americano de Green River, o qual, apesar do nome, não possui<br />

nenhum rio e vem perdendo cada vez mais área verde. A<br />

casa é de meu avô. Fui morar com ele e um exército de enfermeiras<br />

desconhecidas quando Nana morreu, há três anos.<br />

Vovô sofre do mal de Alzheimer. Sua mente assemelha-se a<br />

uma velha TV em preto e branco com antenas danificadas.<br />

Ele entra e sai do ar, e alguns dias são melhores que outros.<br />

Você tem de deixar a antena em uma determinada posição e<br />

não tirá-la de lá, e, ainda assim, a imagem faz um intermitente<br />

giro vertical. Pelo menos, era esse o quadro. Mas ultimamente<br />

– mantendo a metáfora – a TV mal consegue ligar.<br />

Jamais gostei realmente do vovô. Ele era um homem dominador,<br />

do tipo antiquado, que venceu na vida sozinho e cuja<br />

afeição era repartida em proporção direta ao sucesso das<br />

pessoas. Era um homem rude, de amor bruto e um machismo<br />

ultrapassado. Um neto sensível e pouco atlético, mesmo com<br />

boas notas, era facilmente desprezado.<br />

O motivo pelo qual aceitei morar com ele foi saber que, se<br />

não o fizesse, minha irmã o teria acolhido. Linda era assim.<br />

Quando cantávamos na colônia de férias de Brooklake que<br />

“Ele tem o mundo inteiro em Suas mãos”, ela tomava aquilo<br />

ao pé da letra. Ela se sentiria na obrigação. Mas Linda tinha

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