Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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CACO - 90 anos de História Série Memorabilia - UFRJ
aulas, só que, logo depois de abril de 64,
mudou totalmente, passando a apoiar todas
as medidas de repressão.
CACO: Existia alguma proteção da
direção aos estudantes ligados à ALA?
LFH: Existia muito. Em 65, quando a Reforma
fez o enterro simbólico do golpe
militar em frente à Faculdade, Hélio Gomes
desceu nervosíssimo, dizendo que
aquilo era um absurdo, que estavam todos
suspensos e fez uma algazarra tremenda.
Ele se portava mais a favor do regime que
os próprios militares.
CACO: A que o senhor atribui essa mudança?
LFH: Como cristão não gosto de julgar as
pessoas, mas falando em termos objetivos,
Hélio Gomes tinha uma vontade muito
grande de ficar no poder e aquela direção
era muito significativa em termos de
realização pessoal. Um outro episódio,
que reforça minha tese é que, quando
nossa turma se formou, em 67, ele fez
uma pressão tremenda para ser eleito
paraninfo, chegando a dar notas bastante
generosas para alguns colegas que o
apoiavam. Ele espalhou pela faculdade
que, se não fosse escolhido, as provas
seriam muito difíceis e haveria reprovados.
No quinto ano isso é uma tremenda
ameaça, porque todos querem se
formar. O outro candidato a paraninfo era
Dom Hélder Câmara 8 que, nessa época, já
era arcebispo em Olinda, Recife. Ele
ganhou, mas na base houve muita propaganda
contrária. Eu, já com minhas novas
posições, defendi ardentemente a
candidatura de Dom Hélder mesmo porque,
quando renunciei à presidência do
CACO, Hélio Gomes fez muita pressão
para que eu assumisse chegando a envolver,
inclusive, meus pais. Esse fato me re-
voltou muito e fui veementemente contrário
a sua candidatura. Por fim, ele acabou vencendo
na base, apesar da Reforma ganhar
sempre na nossa turma.
CACO: Depois o senhor retornou como
professor?
LFH: Retornei em 76 como professor, quando
me chamaram para dirigir o Escritório
Modelo. Naquela época eu ainda não era
juiz, mas promotor de justiça, e não havia
impedimento para o cargo. Cheguei a
dirigir o Escritório Modelo e entrei oficialmente
em 77 como auxiliar de ensino.
CACO: Os membros da Reforma realçaram
seu caráter e honestidade quando lidava
com os adversários, mas não se referem
igualmente a outros integrantes da
ALA. Houve casos de delação ocorridos
após o golpe militar, isso é verdade?
LFH: Houve, foi uma página negra na história
da faculdade. Isso não envolveu toda
ALA, apenas alguns membros e faço questão
de não citar nomes, por uma questão
ética, porque muitos se arrependeram
depois. Errar é humano. Pessoas da ALA,
que ocupavam posições altas dentro do
partido, delataram companheiros ao Departamento
de Ordem Política e Social
(DOPS). Esses depoimentos estão arquivados
em processos nas auditorias militares.
CACO: No seu retorno o senhor continuou
alguma luta?
LFH: Desde que voltei sempre procurei
colaborar com a faculdade e com o CA-
CO. Por diversas ocasiões conversei com
o saudoso diretor Arthur Machado Paupério,
com objetivo de reabrir o CACO. Já
estávamos vivendo o processo de abertura
D 8 Sobre D. Hélder Câmara, v. n. 11, p. 117.