Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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CACO - 90 anos de História Série Memorabilia - UFRJ
partido, era muito cordato e ninguém conseguia
brigar com ele. Havia gente ligada a
todas as correntes políticas de esquerda e
de direita, estes com tendências extremamente
conservadoras. Tivemos na faculdade
o vice-presidente nacional da União Democrática
Ruralista jovem (UDR), por exemplo.
CACO: Como foi seu ingresso na juventude
socialista do PDT?
JFJ: Em 81, eu estava fazendo curso de meteorologia
e ouvi uma palestra do Brizola
no Centro de Tecnologia, no Fundão, e
fiquei encantado. Brizola voltou do exílio
com a corda toda, com um discurso extremamente
estimulante com o qual me
identifiquei de imediato. Já pensando na
campanha de 82 para governador, ele
dizia que, se eleito, reconstruiria a sede
da UNE, com um sistema especial contra
incêndio. Conheci, depois, um pessoal
que já era da juventude socialista do PDT
e, então, comecei a militar. No Direito,
quando entrei para o CACO, acabei me
encantando ao conhecer melhor a sua história.
Tive a felicidade de ter como professor
Nelson Maciel. 4 Ele sempre foi uma
mola propulsora da nossa indignação,
uma voz dissonante na faculdade. Criticava
muito a atrofia cerebral da juventude.
Certa vez, Maciel perguntou a uma
aluna se o pato era um animal ou um mineral.
A aluna respondeu que, obviamente,
era um animal. Ele, então, mais enfaticamente,
voltou a repetir a pergunta: “O
pato é um animal ou um mineral?” A aluna,
morrendo de medo respondeu, diante da
quase intimidação: “mineral”. Ele parou,
olhou profundamente para a turma, abriu
os braços e disse: “Esse é o quadro!”. Maciel
era o nosso professor de Sociologia
Jurídica, muito assíduo, acabou cativando
os alunos e começamos então, um movi-
mento para transformá-lo em candidato à
direção. O diretor naquela época era Celso
César Papaléu, 5 que não era jurista, mas
médico-legista.
CACO: Como foi essa eleição para diretor?
JFJ: Maciel dava aulas no turno da noite e
tínhamos, também, um professor muito
competente, reconhecido mundialmente,
Celso de Albuquerque Mello, 6 que dava
aulas no turno da manhã. Formou-se também,
em torno do Celso, um grupo de alunos
defendendo sua candidatura. Acredito
que candidatura do Celso Mello surgiu
mais como uma oposição ao Maciel do
que propriamente por vontade dele. Maciel
era uma figura polêmica, muito amada e
muito odiada. Quem odiava, temendo que
ele se tornasse diretor da faculdade, procurou
o professor Celso Mello para fazer
outra chapa. Isso fez com que o movimento
estudantil pegasse fogo e a eleição para
diretor acabou sendo um verdadeiro acontecimento.
O fato é que, após o processo
eleitoral para a Direção da faculdade, os
estudantes se uniram em torno daquelas
candidaturas e disputaram as eleições para
o CACO. A minha chapa ganhou. A Faculdade
de Direito foi a primeira na UFRJ a
fazer eleições para diretor. Tanto que esse
processo contagiou os demais centros acadêmicos
que começaram, então, a promover
eleições com igual objetivo. Só que,
justamente na nossa faculdade, a mais
politizada, o candidato mais votado não
foi nomeado para o cargo, foi nomeado o
D 4 Sobre Nelson Maciel v. entrevista p. 93.
D 5 Celso César Papaléu, professor catedrático de Direito
Penal da FND, admitido em 65, atualmente aposentado.
D 6 Celso Duvivier de Albuquerque Mello (-2005), especialista
em Direito Internacional na FND, lecionou também
na UERJ e na PUC. Foi coordenador da área de Direito
da FAPERJ.