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Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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<strong>CACO</strong> - <strong>90</strong> anos <strong>de</strong> História Série <strong>Memorabilia</strong> - <strong>UFRJ</strong><br />

<strong>de</strong>pois se chegou à UJP. Era um grupo ligado<br />

ao PCdoB daquela época, mas nós<br />

não tínhamos essa visão. Discutia-se a realida<strong>de</strong><br />

brasileira e incluía também alunos <strong>de</strong><br />

outras faculda<strong>de</strong>s. Logo nós fomos acusados<br />

<strong>de</strong> integrar uma organização paramilitar,<br />

que seria a UJP. Eu fui presa no<br />

BANERJ, encapuzada e levada direto para<br />

a Polícia do Exército (PE). Chegando lá,<br />

puseram-me em uma sala <strong>de</strong> tortura on<strong>de</strong><br />

me <strong>de</strong>ram choque elétrico. Colocaram-me<br />

diante <strong>de</strong> uma pessoa, que <strong>de</strong>via me conhecer.<br />

Nos outros dias, eu fui colocada<br />

diante <strong>de</strong> outras pessoas para reconhecêlas.<br />

A minha tortura se resumiu nisso. Durante<br />

minha prisão na PE, me perguntaram<br />

se eu assinaria uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> arrependimento,<br />

que era comum na época. Eu<br />

disse que não estava enten<strong>de</strong>ndo do que<br />

se tratava, que eu tinha acabado <strong>de</strong> entrar<br />

para a UJP. Ficamos presos 65 dias. Fomos<br />

absolvidos por falta <strong>de</strong> provas na Auditoria<br />

Militar em 71, quando eu já estava formada.<br />

Evaristo <strong>de</strong> Moraes Filho 4 estava na <strong>de</strong>fesa<br />

do Rangel Ban<strong>de</strong>ira e George Tavares 5 fez<br />

a minha <strong>de</strong>fesa totalmente <strong>de</strong> graça.<br />

Até hoje não sabemos o porquê da prisão.<br />

Nós ficamos no <strong>CACO</strong> e nós estávamos<br />

ingressando na UJP. Não sabíamos que a<br />

UJP estava ligada ao PCdoB, nem que o<br />

PCdoB estava com ativida<strong>de</strong>s no Araguaia,<br />

que eram secretas. Provavelmente nos<br />

mantiveram presos por causa <strong>de</strong>ssa ligação<br />

com a UJP.<br />

<strong>CACO</strong>: Qual foi a extensão do AI-5 para<br />

a faculda<strong>de</strong>?<br />

GMP: O professor Evaristo <strong>de</strong> Moraes nunca<br />

mais voltou à Faculda<strong>de</strong>, o que foi um<br />

absurdo, porque suas aulas <strong>de</strong> Direito do<br />

Trabalho eram excepcionais e todos assistiam.<br />

O mesmo aconteceu com o juiz<br />

Porto Carreiro. O professor Heleno Fragoso,<br />

que é um dos maiores juristas do país<br />

ao lado <strong>de</strong> Pontes <strong>de</strong> Miranda, foi para a<br />

Faculda<strong>de</strong> Cândido Men<strong>de</strong>s. As pessoas<br />

não falavam nada, não comentavam nada.<br />

Falávamos sussurrando e tínhamos notícias<br />

do que estava acontecendo através da<br />

“rádio corredor”.<br />

<strong>CACO</strong>: Então, a senhora se formou em 71?<br />

GMP: A minha carteira da OAB foi uma<br />

das <strong>de</strong>fesas do George Tavares. Foi uma segunda<br />

chance pedida ao Conselho da<br />

OAB. Nossas notas eram altas, éramos bons<br />

alunos que faziam política. Existia muita<br />

solidarieda<strong>de</strong> entre os estudantes. Na<br />

minha prisão confirmei isso e <strong>de</strong>pois também.<br />

Alunos que não participavam das<br />

ativida<strong>de</strong>s ainda assim escondiam colegas<br />

ou tentavam arranjar emprego para eles.<br />

Eram pessoas que não podiam participar<br />

na linha <strong>de</strong> frente, mas pu<strong>de</strong>ram ser solidárias<br />

<strong>de</strong> outras formas. Muita gente foi presa<br />

porque ajudou.<br />

<strong>CACO</strong>: Como aconteceu a sua entrada<br />

mais tar<strong>de</strong> no Ministério Público (MP)?<br />

GMP: Eu saí em novembro da prisão e ainda<br />

peguei as provas. Os colegas ajudaram<br />

e consegui passar. Eu voltei para o BANERJ<br />

(Banco do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro) e <strong>de</strong>pois<br />

fui para o escritório do tio <strong>de</strong> uma amiga<br />

que praticava advocacia civil e imobiliária.<br />

Fui convidada, então, para trabalhar<br />

em uma subsidiária do Banco<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico<br />

e Social (BNDES). Como eu não tinha sido<br />

concursada, e me preocupava muito com<br />

isso, fiz o concurso para a Comissão <strong>de</strong><br />

Valores Mobiliários (CVM). Depois, fui conselheira<br />

da Or<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil<br />

D 4 S. Evaristo <strong>de</strong> Moraes Filho v. entrevista, p. 29.<br />

D 5 George Tavares e Evaristo <strong>de</strong> Moraes Filho formaram,<br />

durante 30 anos, a partir <strong>de</strong> 64, parceria sistemática<br />

na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> presos políticos. George Tavares foi<br />

preso, vítima <strong>de</strong> ação paramilitar <strong>de</strong> oficiais do Exército.

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