Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
258<br />
<strong>CACO</strong> - <strong>90</strong> anos <strong>de</strong> História Série <strong>Memorabilia</strong> - <strong>UFRJ</strong><br />
que não foi para frente, em parte por causa<br />
da nossa resistência. A Ditadura percebeu<br />
que não valeria a pena bancar uma briga<br />
com os estudantes, o custo po<strong>de</strong>ria ser<br />
muito alto.<br />
<strong>CACO</strong>: Que aprendizado o senhor tirou<br />
da participação no movimento estudantil?<br />
DARF: Foi uma fase <strong>de</strong> uma luta importante,<br />
à qual nos <strong>de</strong>dicamos com entusiasmo.<br />
Tínhamos uma análise política equivocada,<br />
<strong>de</strong> que o povo estava <strong>de</strong>cidido a<br />
lutar contra a Ditadura, uma análise muito<br />
otimista das potencialida<strong>de</strong>s revolucionárias<br />
do povo brasileiro. Por isso, elaboramos<br />
uma proposta muito além do que<br />
a socieda<strong>de</strong> podia acompanhar. Outro<br />
erro, muito sério, foi não ter feito uma avaliação<br />
crítica a<strong>de</strong>quada do passado. Nunca<br />
procuramos enten<strong>de</strong>r exatamente as<br />
causas que levaram à <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 64. Fazíamos<br />
uma análise muito simplista, sempre<br />
tentando responsabilizar, pela <strong>de</strong>rrota, o<br />
“Partidão”, o PTB, e fazíamos <strong>de</strong>sses partidos<br />
verda<strong>de</strong>iros bo<strong>de</strong>s expiatórios. Pretendíamos<br />
ser uma espécie <strong>de</strong> marco zero<br />
na história, isso foi um erro, pois na história,<br />
como sabemos, não há ruptura <strong>de</strong>sse tipo,<br />
as coisas se re<strong>de</strong>finem, se transformam,<br />
mas sempre mantêm laços com o passado.<br />
Apesar <strong>de</strong>sses erros <strong>de</strong> avaliação, penso<br />
que <strong>de</strong>sempenhamos um papel importante<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia da Ditadura, esses anos foram<br />
<strong>de</strong> muita <strong>de</strong>dicação a essa luta, anos<br />
muito importantes para a minha formação,<br />
dos quais nós sempre nos recordamos com<br />
orgulho. É uma pena que as propostas que<br />
discutíamos naquele tempo sejam tão<br />
pouco discutidas e conhecidas pelos estudantes<br />
atualmente. Na UFF, on<strong>de</strong> leciono,<br />
tento discutir aquela nossa experiência,<br />
mas sem gran<strong>de</strong> êxito, porque as<br />
vanguardas organizadas têm uma dinâmica<br />
que lembram muito como éramos em 65,<br />
antes <strong>de</strong> assumirmos uma linha sintonizada<br />
com os estudantes. Escrevi um<br />
livro, 1968 _ A paixão <strong>de</strong> uma utopia, 13 em<br />
que os <strong>de</strong>poimentos do Vladimir Palmeira,<br />
Zé Dirceu e Jean Marc van Der Weid insistem<br />
muito nisso, na importância <strong>de</strong> construir<br />
um movimento estudantil forte, e isto<br />
só é possível respeitando os interesses dos<br />
estudantes e a autonomia das entida<strong>de</strong>s.<br />
Esse é o gran<strong>de</strong> legado do movimento<br />
estudantil <strong>de</strong> 66 a 68. As pessoas têm, <strong>de</strong>ssa<br />
época, uma visão romantizada e não compreen<strong>de</strong>m<br />
como o movimento estudantil<br />
adquiriu tanta força. Na verda<strong>de</strong> adotamos<br />
posições muito inovadoras para a época<br />
que, até hoje, infelizmente, não são bem<br />
conhecidas.<br />
<strong>CACO</strong>: Como o senhor vê o movimento<br />
estudantil hoje?<br />
DARF: Cada conjuntura tem suas contradições<br />
e suas inovações. É difícil comparar<br />
o movimento estudantil <strong>de</strong> hoje com<br />
aquela época, pois atualmente existem<br />
inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação<br />
política. Naquela época só tínhamos o<br />
movimento estudantil para fazer política.<br />
Hoje temos associações, partidos, Organizações<br />
Não Governamentais (ONGs), as<br />
condições mudaram muito. Por outro lado,<br />
mudou também a estrutura da universida<strong>de</strong>,<br />
com o sistema <strong>de</strong> créditos, que<br />
dispersa os estudantes. Tínhamos, naquela<br />
época, turmas que, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
formadas, permaneciam no tempo, promovendo<br />
encontros, jantares, até que a<br />
morte as separasse, como nos casamentos<br />
tradicionais. Sinto que nos diretórios, hoje,<br />
há uma dificulda<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> em<br />
D 13 1968, a paixão <strong>de</strong> uma utopia, Ed. FGV, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
1998 (reedição com atualização).