18.04.2013 Views

Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

34<br />

<strong>CACO</strong> - <strong>90</strong> anos <strong>de</strong> História Série <strong>Memorabilia</strong> - <strong>UFRJ</strong><br />

<strong>de</strong> 1969, uma sexta-feira, quando dois oficiais<br />

do Primeiro Exército me levaram. Fui<br />

solto uma semana <strong>de</strong>pois. Não me argüiram,<br />

não me torturaram, não fizeram nada<br />

comigo. Em primeiro <strong>de</strong> setembro, no dia<br />

seguinte ao <strong>de</strong>rrame do Costa e Silva, saiu<br />

minha aposentadoria, sem processo, sem<br />

<strong>de</strong>fesa, sem coisa nenhuma. Eu disse:<br />

“bem, eu não sou maluco, não sou paranóico.<br />

Não fiz nada, fui preso, não fiz nada,<br />

fui aposentado, não fiz nada, fui anistiado.<br />

Eu não participo <strong>de</strong>ssa paranóia!”.<br />

<strong>CACO</strong>: Para um professor progressista,<br />

qual foi o papel do <strong>CACO</strong> nesse processo?<br />

O <strong>CACO</strong> apoiava esses professores?<br />

EMF: Ah, sim. Lutava a favor da liberda<strong>de</strong>,<br />

contra a ditadura, contra o golpe <strong>de</strong> Estado,<br />

não tenha dúvida disso. A faculda<strong>de</strong><br />

tem uma tradição <strong>de</strong> luta, <strong>de</strong> progresso, <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve continuar assim. Mas<br />

havia muito arbítrio e as prisões eram feitas<br />

em massa, com torturas. Havia também<br />

as <strong>de</strong>missões, sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

<strong>CACO</strong>: O que a sua participação política<br />

na FND, como aluno e professor, trouxe<br />

para a sua carreira?<br />

EMF: Isso marca a gente para o resto da vida.<br />

Você é combatido porque quem dirige<br />

o Brasil até hoje é a direita organizada.<br />

Quando eu entrei para a Aca<strong>de</strong>mia Brasileira<br />

<strong>de</strong> Letras, em 84, disseram: “não, ele é<br />

comunista! Não po<strong>de</strong>mos colocá-lo aqui”.<br />

Eu obtive, mesmo assim, 37 votos <strong>de</strong> 39<br />

eleitores, apenas dois em branco. E nunca<br />

fui filiado ao partido comunista. O Pedro<br />

Calmon, 12 por exemplo, que nunca foi <strong>de</strong><br />

esquerda, também foi acusado <strong>de</strong> comunista.<br />

Ele era um homem rico, oriundo <strong>de</strong><br />

uma família <strong>de</strong> posses. Foi reitor da Universida<strong>de</strong><br />

do Brasil durante 18 anos, era<br />

aberto a todas as correntes, muito favorável<br />

aos estudantes. Quando a polícia, em 56,<br />

mandou invadir a faculda<strong>de</strong>, ele se armou<br />

<strong>de</strong> revólver, e disse para polícia: “Aqui só<br />

se entra com vestibular!” 13 O que nós pedimos<br />

não é i<strong>de</strong>ologia fanática, é <strong>de</strong>mocracia,<br />

liberda<strong>de</strong>, nada além disso. Porque<br />

assim, a ciência ganha, a verda<strong>de</strong> científica<br />

ganha. Dizia Cervantes em D. Quixote que<br />

“a verda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> tardar, como ouro no centro<br />

da Terra, mas um dia ela aclara”. Então,<br />

havendo liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> ensino,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, quem lucra é o progresso,<br />

a ciência. Falei do Calmon porque ele foi<br />

um gran<strong>de</strong> reitor, até hoje não houve um<br />

reitor como ele, que não era um homem<br />

<strong>de</strong> esquerda, mas era um <strong>de</strong>mocrata, que<br />

foi acusado <strong>de</strong> ser comunista, em 64, e respon<strong>de</strong>u<br />

a processo.<br />

<strong>CACO</strong>: Quais foram as marcas em termos<br />

<strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong>ssas experiências políticas?<br />

EMF: Há uma frase que diz que todo homem<br />

<strong>de</strong>ve ter uma marca, nem que seja do diabo.<br />

Na faculda<strong>de</strong> li<strong>de</strong>i com muitos cidadãos<br />

oportunistas. Acho que vocês <strong>de</strong>vem<br />

continuar lutando e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a faculda<strong>de</strong>,<br />

seja através <strong>de</strong> uma revista ou por<br />

qualquer outro meio.<br />

<strong>CACO</strong>: Houve um inci<strong>de</strong>nte com uma<br />

aluna que gravou suas aulas, é verda<strong>de</strong>?<br />

EMF: Maria Teixeira Lafer era o seu nome.<br />

Ela foi namorada <strong>de</strong> um cidadão <strong>de</strong> esquerda,<br />

<strong>de</strong>pois o sujeito terminou o namoro<br />

e ela, por vingança, ficou à serviço<br />

da polícia, fazendo um movimento contra<br />

D 12 Pedro Calmon (1<strong>90</strong>2-1985), professor catedrático <strong>de</strong><br />

Direito Público Constitucional, diretor da Faculda<strong>de</strong> Nacional<br />

<strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> 1938 a 1948, reitor da Universida<strong>de</strong><br />

do Brasil em dois períodos, 48 a 50 e 51 a 66, recebeu os<br />

títulos <strong>de</strong> Professor Emérito da <strong>UFRJ</strong>, Doutor Honoris<br />

Causa das Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coimbra, Quito, San Marco<br />

e México; membro da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras, <strong>de</strong>ixou<br />

extensa obra como jurista e historiador.<br />

D 13 V. a respeito do protesto contra o aumento da passagem<br />

dos bon<strong>de</strong>s p. 117 e 118.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!