Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>CACO</strong> - <strong>90</strong> anos <strong>de</strong> História Série <strong>Memorabilia</strong> - <strong>UFRJ</strong><br />
época. Depois do AI-5, todos nós, <strong>de</strong> alguma<br />
forma, contribuímos para a divulgação<br />
do que se passava no país. É claro que<br />
tortura no Brasil sempre existiu, mas tortura<br />
política, direcionada aos movimentos <strong>de</strong><br />
resistência, passou a ocorrer com bastante<br />
freqüência. Sempre havia essa solidarieda<strong>de</strong><br />
entre as faculda<strong>de</strong>s, entre os cursos,<br />
porque prepon<strong>de</strong>rava a luta pela liberda<strong>de</strong><br />
e por uma nova socieda<strong>de</strong> que propiciasse<br />
a liberda<strong>de</strong> plena a todos os cidadãos. Essa<br />
era a gran<strong>de</strong> utopia <strong>de</strong> todos. A discussão<br />
era para saber como chegar lá. Então, todas<br />
as manifestações dos países <strong>de</strong> libertação<br />
tinham sentido. Eu acho que havia um intercâmbio<br />
<strong>de</strong> idéias. Mas não que tenha<br />
sido por cartas, por telefones ou encontros.<br />
<strong>CACO</strong>: Houve participação do <strong>CACO</strong><br />
nas manifestações ocorridas no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro?<br />
GMP: Sim. As manifestações eram organizadas<br />
e divulgadas pelo <strong>CACO</strong>, que era<br />
uma frente política <strong>de</strong> resistência. Eu não<br />
sei como está o <strong>CACO</strong> hoje, mas era como<br />
uma oficina <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> idéias,<br />
<strong>de</strong> fofocas e <strong>de</strong> brigas também. Mas o inimigo<br />
maior era a ditadura.<br />
<strong>CACO</strong>: Como ficou o ambiente da faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pois do AI-5?<br />
GMP: A partir do AI-5 foi um silêncio total.<br />
As pessoas tinham medo <strong>de</strong> tudo e não<br />
confiavam em ninguém. Qualquer um podia<br />
ser espião. Aquela efervescência<br />
praticamente <strong>de</strong>sapareceu. Várias pessoas<br />
foram para a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Só para se<br />
ter uma idéia, com o professor Franquini<br />
como diretor, um diplomata, uma pessoa<br />
culta, nós não conseguíamos sequer fazer<br />
uma palestra com Pontes <strong>de</strong> Miranda, que<br />
era o nosso maior jurista, porque ele <strong>de</strong>fendia<br />
o habeas corpus e manteve sua po-<br />
sição. Conseguimos fazer alguns jornais do<br />
<strong>CACO</strong> na época do Rangel Ban<strong>de</strong>ira, mas<br />
<strong>de</strong>pois vieram os inquéritos na Aeronáutica.<br />
Passamos a nos reunir em outros<br />
lugares, a nunca <strong>de</strong>scer no ponto mais próximo<br />
<strong>de</strong> nossa casa, nunca <strong>de</strong>scer do elevador<br />
no andar ao qual se ia.<br />
<strong>CACO</strong>: Em 69 a diretoria do <strong>CACO</strong> continuou<br />
existindo ou “caiu”?<br />
GMP: A diretoria não foi reconhecida. O<br />
último ato foi <strong>de</strong> informação sobre verbas.<br />
Juntamos algumas notas para prestar contas,<br />
porque houve sindicância sobre as<br />
verbas.<br />
<strong>CACO</strong>: Então o <strong>CACO</strong> foi fechado <strong>de</strong>finitivamente<br />
em 69?<br />
GMP: Já não me lembro mais. Em 70 fomos<br />
presos e dois meses <strong>de</strong>pois voltamos<br />
e consegui fazer as provas. Alguns pegaram<br />
o Decreto-Lei 477, que era aquele<br />
que expulsava os que tinham algo ligado<br />
à Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional. 3<br />
Criaram as atléticas que era um contrasenso.<br />
Elas foram feitas para ocupar o espaço<br />
i<strong>de</strong>ológico, político e revolucionário<br />
resistente. Depois as atléticas foram retomadas.<br />
Os estudantes conseguiram fazer<br />
o futebol e, então, retomar a política. Mas<br />
aí eu já não acompanhei mais.<br />
<strong>CACO</strong>: Como foi o seu ingresso na UJP,<br />
a prisão e o processo?<br />
GMP: Nós fomos convidados a integrar um<br />
grupo que discutia a realida<strong>de</strong> brasileira,<br />
D 3 Decreto-lei n o 444, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 69, <strong>de</strong>fine as<br />
infrações disciplinares _ “prática <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong><br />
que tenha por objetivo a paralisação”, “atos <strong>de</strong>stinados<br />
à organização <strong>de</strong> movimentos subversivos, passeatas,<br />
<strong>de</strong>sfiles ou comícios”, <strong>de</strong>ntre outras _ punindo com expulsão,<br />
estudantes, e <strong>de</strong>missão, professores e técnicos<br />
administrativos.<br />
263