Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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CACO - 90 anos de História Série Memorabilia - UFRJ
mente, uma posição de direita. Eu ainda vi
os últimos representantes desses grupos,
porque depois houve a formação de vários
movimentos e dissidências.
Os partidos de esquerda, que eram clandestinos,
não se apresentavam, porque
isso violava a Lei de Segurança Nacional.
Quando nos elegemos, em 68, havia a
Reforma e a Reforma independente que,
provavelmente, já expressava uma das
dissidências. Havia um objetivo de cooptar
estudantes que tivessem alguma
representação junto à massa, para que
não fosse somente uma espécie de aparelhamento
das instituições. E foi por isso
que estive neste CACO, porque não tinha
filiação partidária e não vinha do movimento
secundarista. Um ponto que eu
acho interessante explicar é que havia vários
grupos atuando no movimento estudantil,
que podiam ou não estar vinculados
a partidos, grupos, pessoas ou ideologias.
Mas todos estes grupos defendiam a
universidade livre, autônoma e aberta para
a sociedade brasileira. Era a idéia do
CACO ampliado, quase uma antecipação
daqueles coletivos que os estudantes
fizeram na década de 80 na direção, dos
quais alguns permanecem até hoje. Vários
partidos criaram esses coletivos para dar
representatividade e agregar mais pessoas
e não isolar as lideranças. Então, esse
CACO ampliado consistia em assembléias
de pessoas que o apoiavam. Mas isso foi
tudo muito rápido, porque, logo depois,
veio o AI-5 e ninguém mais pôde falar
nada.
CACO: A senhora poderia falar sobre as
atividades culturais que existiam na faculdade?
GMP: Existia realmente uma efervescência
muito grande. A sociedade brasileira
passava por um dos melhores momentos
na área da cultura e da sua história. Havia
o Cinema Novo, o Movimento dos Cineclubes.
Havia uma atenção especial para
as artes. Na faculdade, o CACO promovia
essas atividades. Havia um intercâmbio
entre as universidades e as unidades da
UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro). A universidade era um lugar onde
se discutia sociologia, filosofia e arte,
e isso estimulava as pessoas a ler, ir ao
cinema, assistir peças de teatro, ir aos
grandes espetáculos musicais. Isso ainda
perdurou até os anos 70.
Nós sempre lembramos deste período
pela tortura, ditadura e pela repressão,
mas até o AI-5 havia uma efervescência
muito grande. A nossa geração é uma geração
culta, que teve acesso aos grandes
autores. Foi também um grande momento
de discussão histórica. As pessoas procuravam
ler para que pudessem discutir e
entender o que estava se passando na
política do país. Diziam que no Chile as
pessoas discutiam política em qualquer
esquina. Aqui, no Brasil, isto acontecia
nas universidades. Acho que a nossa geração
foi marcada pelo sonho e pela utopia,
mesmo que muitas coisas não tenham
acontecido como nós prevíamos, tanto
para o bem, quanto para o mal.
CACO: Em 68, houve uma grande movimentação
estudantil não só no Brasil, mas
em todo mundo. Qual foi a participação
da gestão do CACO nesse contexto?
GMP: A cena simbólica era aquela menina
francesa carregando a bandeira. Eu
tinha, na época, uma colega que estudava
na Suíça. Nós mandávamos, por correio,
recortes de jornais dentro de revistas. Eu
não sei se posso atribuir ao CACO especialmente,
mas foi lá que nos encontramos
com a divulgação da tortura pelos meios
de comunicação em várias revistas da