Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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CACO - 90 anos de História Série Memorabilia - UFRJ
teve uma postura muito decente. Era um
dos poucos que votava contra a gente.
Quase todo mundo votava a favor dos estudantes
e nos preparamos para sair. A
polícia cercou. O Clementino fez um acordo,
mas a polícia estava escondida para
nos atacar. Não dava para sair e não
podíamos deixar acontecer um massacre,
assim, sem repercussão. Então saímos na
marra. Tínhamos um primeiro grupo para
fazer um barulho como se fôssemos sair
por trás, onde hoje é a Nova Urca. O camarada
Mao Tse-tung dizia: “um barulho
a leste para atacar a oeste”. Depois saímos
pela porta principal. Preparamos uma tropa
de choque para ir para cima da polícia
pela direita, como se nós fôssemos pegar a
Praia de Botafogo, e a massa saiu pela esquerda.
Existe um folclore de que eu saí no
carro do reitor. É mentira, eu saí debaixo
de tiro, inclusive de fuzil. Quem ficou,
apanhou muito, urinaram em cima dos estudantes…
Deu uma tremenda repercussão.
Como nós já sabíamos que ia haver
problema, marcamos uma passeata na
sexta-feira às 8 horas da manhã. Coisa que
a gente nunca tinha feito. Na sexta às 8
horas da manhã fomos lá. Teve gente que
saiu do DOPS para a praça Tiradentes, foi
preso em Botafogo, saiu e foi para a
passeata. Essa foi a Sexta-feira Sangrenta,
que foi quando teve uma revolta popular
no Centro do Rio de Janeiro e o povo tomou
conta. Nós fomos para casa e o povo
continuou brigando até tarde. Disso saiu
os “Cem Mil”.
CACO: E o povo continuou se engajando
espontaneamente?
VP: Ah, muito! Tínhamos muito apoio popular,
com muito papel picado, sempre.
Mesmo os motoristas não ficavam com
tanta raiva. Morreu muita gente. O cálculo
daquela época é de que tinham morrido
15 pessoas. 24 Eu saí cedo e às 16 h., nós
nos encontramos no Leblon, no Diagonal,
que era o bar da onda. O rádio estava descrevendo
o conflito no centro da cidade,
já estavam lá todas as grandes lideranças.
O pau cantou até às 22 horas. Como foi,
ninguém sabe, alguns dizem que a Universidade
Rural chegou atrasada, que foram
alguns secundaristas que chegaram depois,
ninguém sabe, generalizou…
CACO: Então, todas essas manifestações
acabaram desencadeando a Passeata dos
Cem Mil? 25
VP: Foi. Na Sexta-feira Sangrenta, avisamos
que íamos fazer outra passeata na sextafeira
seguinte ou na segunda. Criou-se um
clima tenso, porque estava óbvio que a
passeata seria terrível. Depois de muita
negociação fizemos um panfleto. O Negrão
de Lima, governador da Guanabara, foi para
a televisão permitir a nossa manifestação.
Ia ser um negócio de proporções dramáticas,
então o governo permitiu e, claro, não
haveria cem mil pessoas na rua se o governo
não tivesse permitido. Mas, lembre-se,
que a nossa manifestação não tinha metrô
grátis, não, nada daquelas facilidades das
manifestação pelas Diretas. Foi um impacto
ver aquilo porque tinha mais de cem mil
pessoas, era muita gente.
CACO: E a manifestação da morte do Edson
Luis?
VP: Foi enorme! Foi o primeiro ato de mobilização,
de participação popular geral.
Criou a luta política geral. Antes dos “Cem
Mil”, o Edson Luis marcou muito. Foi um
D 24 Segundo dados do Centro de Documentação da
Universidade de Brasília, o episódio deixou um saldo
de quatro mortos e 23 baleados, além de várias pessoas
feridas, intoxicadas, espancadas ou amontoadas na prisão
do DOPS.
D 25 Ocorreu em 26 de junho de 1968.