Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ
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Vice-presi<strong>de</strong>nte do <strong>CACO</strong> em 1968, Maria Augusta, a<br />
Guta, foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador<br />
norte-americano seqüestrado por militantes<br />
<strong>de</strong> esquerda durante a ditadura militar. Permaneceu<br />
no exílio por 10 anos, antes <strong>de</strong> retornar ao Brasil e participar<br />
da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).<br />
Atualmente, é ouvidora-geral da Petrobrás.<br />
Maria Augusta Carneiro Ribeiro<br />
<strong>CACO</strong>: Em que ano a senhora ingressou<br />
na FND? Teve, anteriormente, participação<br />
no movimento secundarista?<br />
Maria Augusta Carneiro Ribeiro: Entrei em<br />
1967 e fui presi<strong>de</strong>nte do grêmio no Colégio<br />
Santa Úrsula, na mesma época em que Luiz<br />
Raul Machado 1 era presi<strong>de</strong>nte do grêmio<br />
do Colégio Santo Inácio. Éramos da Juventu<strong>de</strong><br />
Estudantil Católica (JEC). Essa foi a<br />
minha primeira relação organizada com a<br />
política, mas sempre me interessei pelo<br />
tema. Tive uma formação familiar muito<br />
voltada para a questão social. Meus parentes,<br />
pelo lado paterno, eram todos educadores.<br />
Isso era natural na minha família,<br />
pagar-se pela educação <strong>de</strong> quem não tinha<br />
condições <strong>de</strong> estudar e dá para imaginar o<br />
tamanho do patrimônio investido, bancando<br />
a educação <strong>de</strong> gerações e gerações.<br />
O que não foi nada mal; a educação é muito<br />
importante. Era uma família fora do<br />
convencional; não fomos educados para<br />
preservar e reproduzir patrimônio, status,<br />
essas coisas... Meu avô e padrinho, possuidor<br />
<strong>de</strong> uma cultura vastíssima, <strong>de</strong> muita<br />
influência na nossa educação, era um libertário.<br />
Antes <strong>de</strong> morrer eu estava presa e<br />
ele me mandou uma carta, que minha mãe<br />
conseguiu fazer chegar às minhas mãos.<br />
Ele era um homem com mais <strong>de</strong> 80 anos e<br />
falava do gran<strong>de</strong> privilégio que tinha sido<br />
sua vida: ele tinha visto a primeira lâmpada<br />
ser acesa e tinha assistido o primeiro<br />
homem chegar à lua, falava do que tudo<br />
isso representava para o mundo... Com uma<br />
educação pouco convencional, eu era muito<br />
curiosa, aberta a tudo e possuía uma<br />
forte visão social.<br />
Na época do golpe militar, eu era presi<strong>de</strong>nte<br />
do grêmio, tinha apenas 15 anos. As freiras<br />
fizeram o favor <strong>de</strong> me expulsar do colégio,<br />
o que consi<strong>de</strong>rei mesmo um gran<strong>de</strong> favor.<br />
Na época foi um drama, porque todas as<br />
meninas da minha família haviam estudado<br />
lá. Mas as freirinhas foram bacanas, porque<br />
me mostraram que eu não tinha mesmo<br />
nada a ver com aquele mundo. Fui para<br />
um colégio da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica<br />
(PUC) e minha família provi<strong>de</strong>nciou<br />
imediatamente um intercâmbio para os<br />
EUA. Eles achavam que assim eu estaria resguardada<br />
e que, quando voltasse, estaria<br />
suficientemente tranqüila para seguir uma<br />
carreira. Acontece que, nos EUA, em 65,<br />
se vivia a ebulição da guerra do Vietnã.<br />
Falava-se em imperialismo e todas as coisas<br />
que a gente, no Brasil, só ouvia em<br />
D 1 Luiz Raul Dodsworth Machado (1946), professor, escritor,<br />
com 11 livros publicados, especializado em Literatura<br />
infantil e juvenil.<br />
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