Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

CACO - 90 anos de História Série Memorabilia - UFRJ
era aquilo tudo. Foi uma das piores reuniões
que presenciei. Nomearam então
Ayrton Paiva, que fez uma gestão totalmente
distanciada dos estudantes e depois
saiu pela compulsória. Veio, logo após, a
gestão Armênio Albino da Cruz, de Direito
Administrativo que, infelizmente, manteve
a mesma linha, talvez até aprofundando
mais o distanciamento com o corpo discente.
Sua gestão agravou a situação de
crise da faculdade pois suas instâncias
deliberativas, a Congregação e as reuniões
de departamentos não aconteciam mais.
CACO: Na gestão Francisco Amaral faltavam
professores. O senhor assumiu muitas
turmas, quantas foram?
LFH: Em 97 cheguei a dar aulas em sete
turmas. Mas isso foi antes do enfarto, resultado
de problemas pessoais e de toda
aquela revolta diante dos acontecimentos
na faculdade.
CACO: Como eram e agiam os estudantes
da faculdade no período em que o senhor
foi do CACO? Qual a característica dos
estudantes hoje?
LFH: Essa pergunta é muito relevante. Naquele
período havia uma politização muito
grande entre os estudantes e isso não
era resultado apenas dos acontecimentos
da época. O idealismo político era maior
e a Guerra Fria fazia com que, de certa
maneira, todos se definissem por um lado
ou outro. Havia, também, uma grande ingerência
católica na política, infelizmente
pelo lado conservador, mas que melhorou
muito com as novas posições que a Igreja
Católica tomou. Havia também um corpo
discente eclético, estudantes de muitos
estados e com idades diferenciadas. Hoje,
os alunos têm idade próxima aos 20 anos;
naquela época, havia alunos com 30, 40,
50, que contribuíam, sem dúvida, para uma
maior diversidade. Passamos pelo período
da ditadura e, quando começou a Nova
República, em 85, o corpo discente já estava
diferente, mas ainda politizado, com as
lutas pela Constituinte, eleições diretas e
mudanças sociais. A partir dos anos 90 a
despolitização se agrava. O fim da antiga
União Soviética e do socialismo real contribuiu
muito para isso, ainda havia alguma
participação, ainda que bastante reduzida.
É a partir de meados da década de 90 que
o quadro se agrava de maneira crítica. Hoje,
infelizmente, pela conjuntura, pela luta pela
sobrevivência, os estudantes entram para
as faculdades públicas pensado em se
formar e fazer concurso. Não acho errado
que objetivem concursos públicos, mas
abandonar totalmente a vida acadêmica é
muito triste. Quando as faculdades deixarem
de ser uma academia em seu sentido
pleno, se transformarão em escolinhas
de terceiro grau. Há alunos e professores
que pensam que a faculdade é uma escolinha:
professores que deixam suas aulas
antes do término e alunos que já nos
primeiros períodos fazem cursos para a magistratura
e o Ministério Público. A mentalidade
individualista é fato entre a juventude
atualmente. Uma estatística da revista
Isto É demonstrou que a maioria dos jovens
brasileiros lamentavelmente só pensa em
ter emprego, carro, casa. Há uma razão: a
decepção com as mazelas da política brasileira,
com as contradições dos políticos e
dos próprios partidos.
CACO: Como o senhor vê a questão dos
professores substitutos? Isso prejudica ou
em nada interfere na qualidade do ensino
jurídico?
LFH: Eu conheço muitos professores contratados
que são juristas e que conhecem
bem o Direito. Mas professores substitutos
contratados, mesmo que queiram, na prá-
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