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Memorabilia CACO 90 ANOS de HISTORIA - UFRJ

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<strong>CACO</strong> - <strong>90</strong> anos <strong>de</strong> História Série <strong>Memorabilia</strong> - <strong>UFRJ</strong><br />

com a família ou atrás <strong>de</strong> emprego e viviam<br />

uma vida muito dura, <strong>de</strong> muito esforço,<br />

com uma educação <strong>de</strong> péssima qualida<strong>de</strong>.<br />

Já vivíamos uma crise educacional<br />

muito séria no país, naquela época,que<br />

resultava num <strong>de</strong>snível muito gran<strong>de</strong> entre<br />

os estudantes. Antes <strong>de</strong> nos organizar passávamos<br />

por Organização Para-Partidária<br />

(OPP), Grupo <strong>de</strong> Estudo (GE), só <strong>de</strong>pois você<br />

era recrutado para ser quadro. Estes grupos<br />

cuidavam mesmo da formação, no sentido<br />

<strong>de</strong> você ter consciência, <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />

o que achava correto. Então, eu<br />

ficava muito impressionada com o baixo<br />

nível da militância. Isso teve importância<br />

<strong>de</strong>pois, porque essa militância vai ser a<br />

massa da militância do militarismo. Quase<br />

se criou um confronto entre militaristas e<br />

leninistas. No <strong>CACO</strong> tínhamos, na verda<strong>de</strong>,<br />

uma elite, muitos filhos, netos, sobrinhos<br />

<strong>de</strong> advogados, embora houvesse um pessoal<br />

mais pobre, a maioria era a elite. Um<br />

mundo muito diferente daquele que fomos<br />

<strong>de</strong>scobrir no Calabouço, que era o mundo<br />

cão, o mundo da sobrevivência. Eu aprendi<br />

muito naquela época, muito mesmo e a<br />

morte do Edson Luis me marcou muito também.<br />

<strong>CACO</strong>: A morte do Édson Luis foi o estopim<br />

para a “Passeata dos Cem Mil”?<br />

MACR: Foi, na verda<strong>de</strong>, a gente já estava esperando.<br />

O Vladimir dizia que alguém, mais<br />

hora menos hora, ia acabar morrendo, porque<br />

o nível <strong>de</strong> violência nas ruas era muito<br />

gran<strong>de</strong>. Quando mataram o Edson Luis, a<br />

coisa toda explodiu. Alguns setores da<br />

classe média, que tinham apoiado o golpe,<br />

passaram a dar apoio ao movimento estudantil<br />

a partir daí. Depois foi um crescente<br />

muito rápido. De uma semana para a outra<br />

passamos a reunir 10, 50 e chegamos a<br />

100 mil pessoas. Acho que eram muito<br />

mais que 100 mil. Era uma mobilização<br />

louca. Foi um episódio que criou uma<br />

perspectiva <strong>de</strong> mudança da realida<strong>de</strong> para<br />

nós.<br />

Eu estava em todas as manifestações <strong>de</strong> rua.<br />

Na Sexta-feira Sangrenta, 9 por exemplo, o<br />

<strong>CACO</strong> teve uma participação enorme, a<br />

gente veio em bloco, num grupo gran<strong>de</strong>.Víamos<br />

o pessoal dos edifícios da Avenida<br />

Rio Branco jogando máquina <strong>de</strong> escrever<br />

na cabeça dos policiais, gavetas <strong>de</strong><br />

arquivo, papel picado e tudo mais. Todo<br />

mundo participava, fosse contra ou a favor.<br />

E, como disse, a violência foi crescendo.<br />

No <strong>CACO</strong>, na faculda<strong>de</strong>, vivíamos<br />

uma repressão terrível, volta e meia tínhamos<br />

que sair pelo telhado, pela Rádio MEC,<br />

porque a polícia entrava para pegar os<br />

estudantes. Eles tinham uns olheiros ali.<br />

<strong>CACO</strong>: Vocês apareciam na FND para assistir<br />

aula e eram i<strong>de</strong>ntificados?<br />

MACR: A gente já não assistia mais as aulas.<br />

Íamos à faculda<strong>de</strong> para militar e formar militantes.<br />

Acho que tinha um pouco <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. Às vezes eu ia para lá sem<br />

a menor necessida<strong>de</strong>, mas como forma <strong>de</strong><br />

mostrar que estava viva, que estava em ativida<strong>de</strong>.<br />

O pessoal perguntava como estavam<br />

as coisas e nós explicávamos. Mesmo o<br />

pessoal que não militava, tinha muita admiração<br />

por nós. Daqui a pouco, alguém<br />

gritava: “chegou o DOPS! Chegou a polícia!”<br />

E saíamos correndo para o telhado, e<br />

<strong>de</strong> lá para a Rádio MEC. Quando não, a<br />

gente se escondia no bar em frente à faculda<strong>de</strong>.<br />

O dono do bar, um português muito<br />

simpático, que não lembro seu nome,<br />

fechava a gente lá <strong>de</strong>ntro.<br />

<strong>CACO</strong>: Hoje nós o chamamos <strong>de</strong> ‘Manuel’,<br />

por causa <strong>de</strong> outro português...<br />

D 9 Sobre o episódio da Sexta-feira Sangrenta, v. p. 160.<br />

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