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1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

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planalto, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Leste diretamente para o Ibirapuitan; ao Nascente para o Inhanduí, e <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

Sul para o Quaraim, cujas nascentes não estão longe. No dizer <strong>do</strong>s vaqueiros, os conhece<strong>do</strong>res da<br />

região, esten<strong>de</strong>-se a vista, <strong>de</strong>ste la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sul, até o Esta<strong>do</strong> Oriental, cuja fronteira com o Brasil é<br />

formada, como se sabe, por uma linha artificial das nascentes <strong>do</strong> Quaraim às <strong>do</strong> Jaguarão.<br />

Dia 11 <strong>de</strong> outubro – Lindíssima entrada. Passa-se o Ibirapuitan não longe <strong>de</strong> suas nascentes.<br />

Depois sobe-se a uma altura on<strong>de</strong> se encontra uma das pirâmi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tijolos com revestimento <strong>de</strong><br />

cal, que assinalam, <strong>de</strong> espaço a espaço, a fronteira. Goza-se dali uma vista pitoresca e muito<br />

original sobre uma série <strong>de</strong> vales arboriza<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> colinas <strong>de</strong> encostas escarpadas, que quase<br />

todas terminam em pequenos planaltos. No meio <strong>de</strong>sta região atormentada aparece Sant’Ana <strong>do</strong><br />

<strong>Livramento</strong> na direção S.E. na forma <strong>de</strong> uma massa branca, hoje um pouco envolta em bruma.<br />

Muito perto <strong>de</strong>sta pirâmi<strong>de</strong> ou marco <strong>de</strong> fronteira, encontram-se ao mesmo tempo as nascentes<br />

<strong>do</strong> Ibirapuitan, Santa Maria <strong>do</strong> Cuñapirú, afluente <strong>do</strong> Rio Negro (gran<strong>de</strong> rio que atravessa to<strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> Oriental e se vai lançar no Rio Uruguai muito abaixo <strong>de</strong> Paissandu). Forma fronteira neste<br />

sítio a crista da coxilha ou linha das águas, as quais vão, como se vê, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> brasileiro para o<br />

Ibicuí pelo Ibirapuitan e pelo Santa Maria, e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oriental, que entre para tese, é aqui o<br />

Su<strong>do</strong>este, para o Rio Negro, pelo Cuñapirú.<br />

A verda<strong>de</strong>ira entrada para ir para Sant’Ana segue também a coxilha, por tanto atravessa<br />

mais <strong>de</strong> uma vez a fronteira. Mas o impera<strong>do</strong>r não po<strong>de</strong> sair <strong>do</strong> Império; portanto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

termos contempla<strong>do</strong> as duas faces brasileiras temos <strong>de</strong> tornar a <strong>de</strong>scer, por caminhos <strong>de</strong> cabras,<br />

para um <strong>do</strong>s vales, com as suas encostas pedregosas e arborizadas, as casinhas no fun<strong>do</strong> cercadas<br />

<strong>de</strong> chácaras esmeradamente cultivadas. Mais facilmente po<strong>de</strong>ria eu imaginar que estava num<br />

canto da velha Europa <strong>do</strong> que na Província <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Tornamos a subir para Sant’Ana. Vem ao encontro <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r a Guarda Nacional a<br />

cavalo, na força <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200 homens, <strong>de</strong>pois, a entrada da vila, a Câmara Municipal, mais<br />

adiante, um grupo <strong>de</strong> meninas com fitas das cores nacionais: algumas pronunciaram falas em<br />

prosa ou em verso. Visita a igreja; “Deus in cujus manu Sunt corda regum”, etc. etc. Por fim,<br />

tomamos posse <strong>do</strong>s nossos aposentos na Câmara Municipal; os lavatórios estão a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong>s com o<br />

“Bard os Avon’s perfume”, e to<strong>do</strong> o edifício está perfuma<strong>do</strong> com anis. São 9 horas e meia. Depois<br />

<strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> espera <strong>do</strong>lorosa para os estômagos, acabamos por ter um copioso almoço com<br />

manteiga da terra, <strong>de</strong>licia que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Porto Alegre não tornáramos a conhecer. De tar<strong>de</strong> fizemos<br />

uma conscienciosa visita a vila.<br />

A vila <strong>de</strong> Sant’Ana <strong>do</strong> <strong>Livramento</strong> está assente num contraforte da coxilha. Tem aspecto<br />

quase europeu: as casas estão disseminadas pelo meio <strong>de</strong> jardins ver<strong>de</strong>jantes on<strong>de</strong> crescem<br />

árvores da Europa, como o choupo e a acácia (agora em flor), que em outras partes <strong>do</strong> Brasil são<br />

<strong>de</strong>sconhecidas. As sebes estão cobertas <strong>de</strong> rosinhas. Os pessegueiros e os marmeleiros começam a<br />

formar os frutos. Em compensação não há laranjeiras. A população é, pelo que me dizem, <strong>de</strong> 2.000<br />

almas, <strong>de</strong> que o elemento brasileiro não representa senão aproximadamente meta<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> o<br />

mais orientais, argentinos, e europeus. Entre estes parecem-me pre<strong>do</strong>minar os italianos. As lojas<br />

têm bustos <strong>do</strong> rei Victor Manuel, <strong>de</strong> porcelana <strong>de</strong> cores, e o bilhar da terra tem tabuleta “Hotel a<br />

la Garibaldi”. Na praça há, em frente da igreja, um teatro <strong>de</strong> exterior monumental.<br />

<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 105 -

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